Artista do Mês: Marcelo Callado

Artista do Mês: Marcelo Callado
*Foto: Caroline Bittencourt

Marcelo Callado é experimento. Estar na cozinha das bandas Cê (Caetano Veloso) e Do Amor como baterista não foi o suficiente para todas as suas refeições e ele partiu para uma carreira solo totalmente sincera. O primeiro disco só dele veio em 2015 e não poderia deixar de trazer influências dos acima citados e outros artistas com quem fez estrada, como Jorge Mautner e Canastra. 

Entre todos os paradoxos possíveis de seu trabalho, prever Bozonaro nas entrelinhas de referências dos anos 60 e 70 que suas canções trazem é apenas a pimenta da mistura que se tornou o artista.

Ouvir Callado é ler um ser humano complexo em sua introspecção que vira música nua e crua com todas as nuances de uma personalidade que não se limita a ser uma coisa ou outra, mas simplesmente ser alguma coisa.

Quantos e quais instrumentos toca?
Toco bateria, mas me viro na percussão também. Consigo arranhar uma guitarrinha gostosa e um baixo, principalmente nas minhas próprias músicas.

Conviver com Caetano, Jorge Mautner, Branco Mello… Trouxe que tipo de insight para sua composições? Isso aumentou a pressão?
Insight eu não sei, mas de alguma forma vi de perto o processo criativo de várias pessoas com quem trabalhei e isso inspira, sim. Te mostra um tanto de caminhos diferentes que você pode decidir seguir. Nenhum aumento de pressão.

Tantos anos na estrada e passando por momentos de mudança digital bastante importantes. Como impactou, como impacta e como você acredita que ainda vai impactar o seu trabalho?
Tenho dificuldade com o mundo digital, mas tenho tentado me adaptar a ele. Tenho ajuda da Sarah Abdala, uma amiga muito especial, disponibilizada através do selo Rockit! Ela me agulha com lance de posts, promos, vídeos e etc. Tenho feito mais clipes também, já que isso é meio que fundamental hoje em dia… E por aí vai.

Quais seriam três influências suas que acredita não serem tão óbvias para o público em geral?
Manezinho Araújo, Metallica, Lennie Tristano.

E duas músicas com uma boa história de bastidores para contar?
Corais Laranjas: essa é a música mais antiga desse meu disco novo. Ela foi criada em maio de 2014 e é uma parceria com meu compadre Gustavo Benjão. O que acho engraçado nela é que podemos observar dois pontos premonitórios em sua letra. O primeiro diz respeito a parte que fala ‘se um Maracanazo se repetir’ e, naquele mesmo ano, a tragédia da Copa de 1950 se repetiu, não no Maracanã, mas nas Minas Gerais, com o 7×1. O outro é que nos referimos ao palhaço Bozo dos anos 80, dizendo que se voltassem a reprisar seus programas seria algo divertido, bacana… E, para o espanto geral, de fato em 2018, um certo ‘Bozo’ reapareceu, mas no caso não foi e nem está sendo nada bacana, nem divertido.

Contrafluxos é outra parceria com o Gustavo (Benjão). Fizemos essa harmonia e melodia para a trilha de um filme em 2017. No final do ano, coloquei a letra sozinho. Gosto da passagem: “um copo vazio está cheio de amor”. Também vale ressaltar que os ruídos no começo da faixa foram gravados com meu celular pelas ruas do Rio, mais especificamente em bueiros de saídas de ar no Leblon e em frente às escadas rolantes da estação de metrô da praça General Osório.

Clique aqui e ouça uma playlist de canções que previram o futuro.

O que você quer que as pessoas vejam e sintam com seu trabalho?
Cada vez mais quero que as pessoas sintam que o que está ali é tudo feito de peito aberto, sem medo de ser feliz!

Ser artista, empresário de si mesmo, marketing, produtor… O que o música independente precisa saber e fazer?
Precisa saber fazer isso tudo aí. Gravar, produzir, gerar conteúdo, fazer marketing, fazer política, ter controle de todas as esferas do seu trampo.

O que você destacaria nos processos do seu novo disco?
Eu destacaria o fato de que gravei uma faixa por dia, partindo do zero, no sentido dos arranjos. Um outro ponto também a se destacar foi o fato de várias vozes terem sido gravadas sem autotune e valendo junto com o instrumento de base harmônica. Fiquei feliz com isso! 

De todos os processos vividos e sobrevividos, quais foram os mais desafiadores na sua carreira?
Com certeza assumir um trabalho autoral como compositor, cantor, guitarrista e também como produtor. Estou aprendendo até hoje, todo dia é um novo desafio.

Qual você acha que é o maior desafio hoje?
Conseguir sobreviver desse meu trampo autoral, certamente.

Outras considerações.
Muito obrigado e ouçam muito som!

Discos:

Meu Trabalho Han Sollo – Volume 2 (2015)
Callado Compacto (2016)
Musical Porém (2017)
Caduco (2019)

 

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Carol Tavares é jornalista. Passou pela MTV, pela Bandeirantes e a hiperatividade levou seu caminho a cruzar felizmente com o Jardim Elétrico e criar a produtora Jazz House. Apaixonada por música, pelo amor, por Alberto Caeiro e por seu acampamento no Jalapão.