A beleza africana de Tinganá Santana e seu Tempo & Magma

A beleza africana de Tinganá Santana e seu Tempo & Magma

Tempos atrás, o maestro e arranjador, Nestor Lombida, me provou que as referências musicais mais fortes da América Latina (e consequentemente da América do Norte e Central) vêm de um lugar: África. Ele bate os dedos, gentilmente, na mesa, e balança os ombros. Canta e ensaia uma dança, enquanto fala das maravilhosas descobertas. Lembro do senhor de cabelos brancos e sorriso completo, enquanto escuto “Tinganá Santana”, no indescritível álbum “Tempo & Magma (Ajabu!). Lembra o continente nunca visitado, lembra origem, lembra a vontade de sair por aí com um tambor em uma mão, e esse CD na outra.

Tempo & Magma é o terceiro álbum do artista e resultado de um enraizamento musical e cultural. Percebe-se a estética intimista, a riqueza de instrumentos, a urgência em contar histórias por meio da arte. Vários músicos puderam contribuir com a mistura. Ouvir a voz da Céu abrir o disco é um presságio da beleza que segue na próxima hora de entrega musical, tanto de quem o produziu, quanto para quem escuta. A língua é o português, mas a riqueza das palavras está muito além do entendimento de senso comum que se tem sobre “canção”, é preciso ouvir atentamente, e se deixar levar para os caminhos que seguem.

Há bem mais que um país na obra de Tinganá, mais que um continente. É como se o berço musical se abrisse para a criança que viveu ao som dos instrumentos africanos. Quando se abre os olhos, já está diante de um velho, conhecedor absoluto das verdades do mundo. É esse o caminho que o disco percorre em mim. Ouvir esse álbum é se encontrar com o Deus, um deus, uma deusa das águas do oceano. Abraçar todos os orixás da Bahia e dizer que conseguimos aproveitar a origem africana – em partes -, à nossa maneira.

A identidade sonora, de pés descalços, é feita do poder que há em cada música, cada sílaba solta que confere legitimidade para o processo criativo. Tempo & Magma é mantra de alegria e paz. Viva a excelência em produzir essa oração particular, o elogio ao mundo (ou o que ainda há de boa nele).

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Mariana é de gêmeos, capixaba e jornalista, não necessariamente nessa ordem. Está em dúvida se gosta mais de ler ou de escrever. Espero que nunca descubra.

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