Alalaô com Lila

Alalaô com Lila

Às sete horas da manhã, os transportes para o Centro do Rio de Janeiro começavam a lotar em pleno domingo! O sol, é claro, já era presença esperada por quem saía de casa. Mas nem os prováveis 40°C desanimaram os foliões que seguiam para o Largo São Francisco.

Às oito horas, a cantora Lila já estava arrumando os últimos detalhes da sua fantasia para a apresentação do Bloco Fogo & Paixão. Este ano, quando completaram seis anos, homenagearam os 50 anos da Jovem Guarda e os looks seguiram direitinho a moda dos roqueiros da década de 60. Boca de sino, polainas, óculos de gatinha e bota de cano alto fizeram parte das fantasias dos cantores e da bateria – para quem não sabe, já ganharam o título de melhor fantasia pelo prêmio Serpentina de Ouro.

Não demorou muito para os primeiros foliões chegarem. Vinicius Zwili, Alexandra Zwili e Fernanda Pereira foram de mansinho se posicionando na praça. Era impossível bater o olho no trio e não rir. A roupa que usavam tinha sido inspirada na música que inspirou o nome do bloco, interpretada pelo inesquecível Wando. Mas não foi apenas ele o “incorporado” pelo público presente. Teve Chacrinha, Ney Matogrosso e até a Xuxa se tornando ícone carnavalesco. É… O Carnaval tinha começado. E era com o pé direito!

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Na passagem de som, os vocalistas Matheus VK e Guilherme Skinner soltaram uma das canções mais cantadas na voz do Fábio Jr: “Caça e Caçador”. O povo, ainda se aconchegando nas sombras que os prédios e árvores faziam, não resistiu e saiu em coro mesmo quando o teste de som já tinha acabado. É como a Lila disse durante o nosso bate-papo: “todo mundo tinha vergonha de dizer que sabia cantar as músicas inteiras, mas todo mundo sabia! Aí a gente resolveu fazer e tem seis anos”, contou sobre a formação do grupo.

COMO TUDO COMEÇOU

Em 2010, a sede por um repertório que focasse naquelas canções que todo mundo diz não conhecer, mas vira e mexe se pega cantarolando no chuveiro, desaguou na união de músicos de diversos blocos cariocas. Do Bangalafumenga saiu a maioria dos integrantes do Fogo & Paixão, inclusive a Lila. “O bloco é formado por batuqueiros que eram do Bangalafumenga, do Quizomba… E tem mais algum bloco. Foram três pessoas que tiveram a mesma ideia, ao mesmo tempo”, revela a cantora.

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Por algum tempo, ainda ficaram se apresentando apenas no pré-Carnaval do Rio e na festa junina da Feira de São Cristóvão, também na cidade maravilhosa. Mas, atualmente, já fecham shows em São Paulo e em outras épocas do ano. “Quando a gente começou preferia não se apresentar (em outras datas). Mas aí com o tempo a gente foi vendo que dava para fazer um evento ou outro fechado. Agora a gente está começando a fazer umas coisinhas menores, mas a ideia de grande evento são só nesses dois”. E ainda emenda. “Ano passado a gente fez o Carnaval em São Paulo, aí foi gratuito. Esse ano eles fizeram uma festa em São Paulo chamada Javali. Aqui, no Rio, vai ter uma festa no sábado, depois do Carnaval, que vai ser fechada”, explica Lila, que não foi na viagem a SP dessa vez.

Para escolher as canções que são entoadas no grande dia, em torno de 140 pessoas debatem e ensaiam durante três meses! “Existe uma linha que faz parte desde o início parte do repertório. Reginaldo Rossi, Wando, Sidney Magal… E aí todo ano a gente coloca uma coisa ou outra nova, que fez sucesso. Esse ano entrou o Wesley Safadão, por exemplo”, declarou a cantora, que em 2016 também trouxe os hits “Calhambeque”, “Estúpido Cupido” e “Banho de Lua” de surpresa.

As novidades trazidas atraíram 12 mil foliões em plena manhã de domingo, que foram testemunhas do pedido de casamento realizado em cima do trio elétrico. Ainda no primeiro bloco do show, João Alvarez pediu a mão da namorada, Danielle Gomes, para a sogra, dona Beth, que estava lá embaixo, junto com a multidão. O “sim” foi selado com o beijo do casal no fervente pré-Carnaval carioca.

Depois do vocalista Guilherme se jogar no meio do povo e cantar entre o público, o Bloco Fogo & Paixão se despediu às (quase) 16h com seleções de músicas como, por exemplo, “Eva” e a canção que dá nome ao grupo.

CARREIRA SOLO

Animadíssima por conseguir emplacar no repertório do bloco “A Lenda”, de Sandy & Júnior, Lila revelou também sobre as diferenças de lidar com uma bateria de 150 pessoas e tocar acompanhada apenas de dois músicos, na carreira solo. “A minha banda é bem econômica, as coisas são mais sutis. Aqui é uma energia muito mais poderosa! Inclusive pelo tamanho do público. Cantar para dez mil pessoas é completamente diferente de cantar pra 80, num teatro. Eu acho maravilhoso poder fazer as duas coisas”, analisa ela, que é carnavalesca desde criança.

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Ainda em 2015, foi destaque em algumas publicações e recebeu o incentivo do Spotify, que a considerou uma das apostas de 2016 dentro da música brasileira. “O fato de eles terem me escolhido e me colocarem numa playlist, joga luz em mim. As pessoas começaram a me conhecer e uma das minhas músicas, que é a que está na lista, foi a mais compartilhada por dez dias (ela está falando da faixa ‘Aparição’, presente no EP). Teve 50 mil plays! Para um artista do meu tamanho, independente, é algo inacreditável. Isso pra mim foi excelente!”

Justamente para aproveitar o espaço cedido pelo Spotify, Lila pretende divulgar um clipe e um single. “Estou querendo gravar depois do Carnaval. Tudo tem que começar depois do Carnaval”, ri. E completa. “Vou fazer um planejamento pra lançar no primeiro semestre o clipe. E aí eu não sei se vai ser um clipe de um single ou se vai ser de uma música do EP. Se der pra ser do single, aí eu já libero coisa nova. Eu estou doida pra fazer coisa nova, pra botar mais coisa no ar. Mas tem pensar direitinho, fazer com mais calma.”

Com três músicas inéditas, compostas por ela, integrando as apresentações, já pensa em como se posicionar no mercado musical e fincar o pé num gênero. “Eu vou mais para o lado de “Aparição” provavelmente, coisas mais dançantes, coisas mais animadas, mais suingadas… Vamos ver! Estou querendo mirar para esse lado porque eu acho que é o que tenho mais resposta, é o que eu gosto mais, é o que se parece mais com isso aqui”, diz apontando para o trio elétrico.

Para um novo álbum, Lila coleciona canções que remetem à sua época preferida do ano. “Tem uma que chama ‘Tigre e Gazela’, que é um axé; o ritmo e a melodia foram inspirados no Carnaval e fala do ‘Emoriô’, que é um ijexá”. A revelação sobre o futuro da carreira solo, ela faz na última pergunta. “Acho que vou cada vez mais usar esse repertório aqui (apontando novamente para o trio) porque posso dar muito disso pro mundo. Vivo isso intensamente e me sinto confortável de usar esse repertório do Carnaval nas minhas coisas, sabe? Então acho que vou mais por aí mesmo”, finaliza.

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Jornalista com uma habilidade fora do normal de não ser séria. Criada em meio às cachaças e ao samba, a MPB se tornou o seu xodó. Para ela, a música popular tem o seu prestígio, e preconceito é sinal de ignorância. Bem humorada e flexível em debates, mas é melhor usar um forte argumento para convencê-la, senão ela o fará com você. E respira fundo. Porque fala pelos cotovelos.

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