Artista do Mês: Clarice Falcão

Artista do Mês: Clarice Falcão

Sai amanhã! Clarice Falcão está pronta para mostrar seu novo EP no meio deste furacão chamado coronavírus. O nome é “Eu Me Lembro” e não poderia ser mais claro: são cinco canções que ela já tinha na manga, repaginadas com roupagem eletrônica. Se gostamos? Muito! A gente já apostava nela antes. E ficou ainda melhor. A nova Clarice segue sendo sincerona, mas tem a maravilhosa ousadia de ser ainda mais transparente. A própria nos contou tudo sobre essa transição, que você confere abaixo.

O último disco já teve uma mudança importante de estilo. Quando e como você decidiu seguir por este novo caminho?
Já faz alguns anos que voltei a me conectar com a música eletrônica. Quando eu era mais nova, eu tinha um fã clube da Björk, mas aos poucos fui me aproximando mais do folk porque meu instrumento de oposição sempre foi o violão. Outra vantagem de arranjos mais simples e acústicos é que a letra fica mais em evidência. Mas agora que eu sinto que meu estilo de composição já está mais estabelecido começou a me dar muita vontade de brincar com a sonoridade do mesmo jeito que eu costumo brincar com as palavras. E foi aí que eu encontrei o Lucas de Paiva, que produziu o disco comigo e que me ensinou tudo que eu sei sobre produção.

Como foi esse processo de transição para você?
Está sendo muito feliz. Com o tempo nossa personalidade e os nossos gostos mudam, e é muito bom poder fazer um som que representa o momento que eu estou vivendo. Não seria genuíno da minha parte ficar tentando “replicar” um Monomania só pra agradar a quem gostou do disco.

Revisitar canções antigas e repaginá-las ao novo estilo. Como tem sido esse processo e como você acredita que será a recepção do público?
Tenho muito orgulho do “Monomania” e do “Problema Meu”. Foram etapas essenciais e foram o que me fizeram estar aqui agora. O EP é uma homenagem a essas músicas e essa época, que podem não me definir totalmente hoje em dia, mas continuam tendo muito de mim. Quem preferir as versões antigas vai continuar podendo escutar elas pra sempre. Essa é a graça. Não é uma substituição, é uma adição à minha discografia.

Esse EP seria como o marco oficial dessa mudança de sonoridade?
Acho que o “Tem Conserto” já tem uma sonoridade completamente diferente do “Problema Meu”, que já tinha uma sonoridade diferente do “Monomania”. Como é uma mudança orgânica, é uma mudança que vem acontecendo aos poucos. Ainda nem entende onde vai me levar.

Que artistas serviram como base de pesquisa para a criação dessa nova Clarice?
Gosto muito de músicas de pista que têm uma melancolia. Robyn, Depeche Mode, New Order, No Porn, a própria Bjork.

O que essa nova Clarice representa para você?
Representa o conforto em ser eu mesma. Soa clichê, porque é, mas é muito produzir um trabalho que te representa como artista e como pessoa.

Abrir ao público questões relacionadas a ansiedade e depressão é corajoso e importante. Como foi esse processo para você? Que impacto ele segue tendo na sua maneira de fazer e produzir música?
Música e arte sempre foram um refúgio pra mim em momentos difíceis. Ouvir alguém cantar o que eu estava passando me fazia me sentir menos só e esquisita. Fico feliz se ajudei pelo menos uma pessoa a se sentir assim.

Ainda é cedo, mas não custa perguntar. Após o EP, você pensa em lançar algo inédito?
Além de alguns clipes do “Tem Conserto” e do “Eu Me Lembro”, tenho um single completamente inédito pra lançar depois do EP. Estou bem ansiosa pra ele.

A nova Clarice é bastante especial. Ela mistura autenticidade e intensidade com aquela pitada de bom humor que marcava a Clarice anterior. Como foi o processo de encontrar esse equilíbrio dentro das canções? Que outras nuances você mesma reconhece em si enquanto figura pública?
Sempre gostei coisas com muitas camadas. A primeira ideia que eu tive de música era justamente uma menina cantando muito docemente que ia matar alguém. Eu curtia essa justaposição de climas completamente opostos. Acho que, com o tempo, consegui inserir mais camadas. Tenho tentado ainda usar humor, mas também tentar me mostrar vulnerável (porque eu sou). Tenho tentado ainda fazer músicas que se conectem com o ouvinte, mas que também tenham algo de esquisito (porque eu tenho). Espero que esteja dando certo. Mas nem sei se arte é pra ser sobre dar certo. Talvez seja só sobre tentar. Eu estou tentando.

Diz aqui o que quiser. O espaço é todo seu.
Lavem as mãos, se protejam e protejam o próximo 🙂

Trabalhos:
Monomania
Problema Meu
Tem Conserto
Pra Ter O Que Fazer
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Carol Tavares é jornalista. Passou pela MTV, pela Bandeirantes e a hiperatividade levou seu caminho a cruzar felizmente com o Jardim Elétrico e criar a produtora Jazz House. Apaixonada por música, pelo amor, por Alberto Caeiro e por seu acampamento no Jalapão.