Bacamarte – Depois do Fim

Bacamarte - Depois do Fim

Em 1983 o Brasil contou com o lançamento deste disco que, na minha humilde opinião, configura entre os 10 melhores já lançados nesta terra de bananas. Imagine a fusão entre o violão clássico, a guitarra erudita com o rock progressivo. Agora imagine uma voz angelical com um ritmo quebrado. Falo agora desta obra magnífica do rock nacional.

A banda surgiu em 1974 na cidade do Rio de Janeiro. Após 10 anos de instabilidade, trocas de integrantes, finalmente saiu o disco conceitual “Depois do Fim”, que conta a história pós apocalipse no mundo. Mário Neto, guitarrista e violonista do disco foi a cabeça pensante e, consequentemente, o produtor deste disco.

O disco foi gravado também por Sérgio Villarim (teclas), Delto Simas (baixo), Marco Veríssimo (bateria), Marcus Moura (flauta e acordeão), Mr. Paul (percussão) e, nos vocais, Jane Duboc, que apenas gravou as vozes, não sendo membro da banda.

O disco mescla as músicas instrumentais e cantadas. Duboc quando canta rouba a cena, pois a voz se destaca de uma maneira tão bela que realmente parece que estamos na calmaria do apocalipse. O clima a banda conseguiu manter facilmente.

Vamos ao disco…

A abertura é da música UFO, que se inicia com uma execução de “Capricho árabe”, peça do violonista espanhol Francisco Tárrega, que muda bastante como bem manda o rock progressivo. Vale destacar o refrão desta música, com um agudo lindo do violão.

Em Smog Alado, a voz de Duboc já se destaca, tanto na sua melodia quanto no jogo de palavras. O início da música é bem quebrada dando o clima certo para a entrada da voz.

“No claro escuro

Imensa serpente vagueia

Movendo ares pesados

Pra dentro dos rios vermelhos

Já valas perfumadas pelo Smog alado

Luta contra o caldeirão da maga

Que o condão encantado criou

Início do fim

Da ebulição”

Miragem é outra instrumental que conta com uma linda melodia, bem puxada ao estilo que o Yes fez nos anos 70. A música que segue é Pássaro de Luz. Peço licença para declarar todo meu amor por essa música. Os violões são suaves, com um dedilhado bem aveludado. A voz de Duboc acompanha o som celestial. Gosto tanto desta música que acabei escolhendo-a para entrar em meu casamento. Arrepia só de lembrar.

“Vai tornar reais

As formas das nuvens

Mais que um simples sonho:

O amanhã”

Caño segue a narrativa de instrumental com a guitarra erudita, seguida pela belíssima  Último Entardecer. Esta é uma música bem interessante, primeiro porque começa com uma homenagem a banda alemã Triunvirat. Seu riff é da música I Believe. Essa música pode ser divida em três partes em sua letra, anunciando o apocalipse:

“O sangue brota no horizonte

A vida estanca na rua

As almas se trancam nos corpos

Que loucos se atiram à Lua

Crepúsculo que envolve a Terra

O medo paira no ar

O mundo se envolve em trevas

Que podem nunca acabar

Na noite repleta de trevas

Aos céus se eleva uma prece

Pedindo que o dia recomece

Num novo amanhecer”.

Controvérsia inicia com uma bateria bem marcante, duelando com o teclado. Bem frito ao gosto do progressivo mais viagem. Mas é na faixa título, no encerramento do disco, que o clima pesa. Ela conta a história de como ficaria a Terra após o apocalipse. Na última estrofe, é descrita a capa do disco

“Se lembra das crianças que um dia vão nascer

Arranja uma pedra, nela temos que escrever

Palavras esquecidas com o tempo

Mensagem pro futuro

Passado pro presente”

O disco fecha, de forma magnífica, com Mirante das Estrelas, com um dedilhado maravilhoso de Mario Neto na guitarra. Pena que essa música foi tirada no relançamento do disco pela Som Livre. Vai entender esses empresários de música…

Um disco obrigatório para quem gosta de um instrumental bem tocado e uma voz angelical. Um disco único ao rock brasileiro, tanto é que a banda foi chamada para se reunir para tocá-lo na íntegra na vira cultural de São Paulo em 2015 no Teatro Municipal. Um cenário lindo para um disco tão marcante.

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Para acompanhar o disco indico a cerveja  Apocalipse, da cervejaria Cathedral.   As cervejas Imperial Stout eram fabricadas para exportação em meados de 1700 e tornaram-se populares entre os membros da alta corte russa. Encorpada, forte, de sabor intenso com aroma rico e complexo. São muitas as possíveis interpretações. O teor alcoólico dela é de 10%, portanto, vai viajar fácil com o disco!

Um brinde

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Pedro Cindio - Jornalista narigudo, músico frustrado e apaixonado por música, tenho um toc de só escutar discos completos. Cervejetariano e feio, mas meu humor salva a aparência.

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