Resenha: Casa 7

Resenha: Casa 7

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NÃO FUJA DE CASA

Antes, uma confissão: Sim, mais uma vez, eu atrasei a resenha. O motivo? É essa geração que não cansa de confundir o nosso cérebro. Acho difícil parar de bater nessa tecla. É muita gente boa nascendo, brotando do Brasil profundo e das grandes capitais para, no final das contas, perder a origem e morar em todos os lugares, em todos os ‘alguéns’.

Casa 7, esse jazz-samba-tudo-e-mais-um-tanto-de-tudo, não é para ouvir tomando café. Esqueça. Vá para o bar, para o meio do salão ou para o íntimo de um lounge. Mas, saia de casa. Saia de casa para entrar na verdadeira onda da Casa, a mesma que se faz morada minha desde domingo. Mas, vá lá, eu prometo ser um bom anfitrião. Vou convidar o mundo inteiro para ouvir Mercê na varanda comigo. Essa canção que é margem e é corpo. É abismo e é pele. São trocadilhos, são descaminhos do coração.

Dai, que da varanda dessa Casa linda, a gente vai sentir toda a sua brasilidade. A mistura de ritmos me remete a algo entre João Gilberto, Trio Irakitan e Elis Regina. Transportando para um universo mais atual, é como se misturássemos o experimental de Céu, os Brasis da alma de Roberta Sá e a graça e leveza da Filarmônica de Pasárgada.

Li que Dori Caymmi teceu elogios ao grupo. Pudera. Aliás, não imagino que algo possa desfilar tão bem entre os clássicos dos nossos sambas e a sofisticação do jazz americano. Ouvir Casa 7 sem lembrar do icônico disco Chega de Saudade é como andar de avião sem admirar o céu, sem fotografar a nuvem que parece roçar no braço. A diferença está na textura da canção. Enquanto João é cru e lindo, Casa 7 é deliciosamente elegante.

Me recuso a esmiuçar os dados técnicos. Isso vocês podem ver em qualquer outro lugar. Esse Jardim aqui é Elétrico. Casa 7 é uma experiência musical que precisa de um olhar que transpasse a tecnicidade. O que não é meu caso, eu não entendo é nada de técnica mesmo. Nesse espaço de resenhas, sou todo coração, e não sei até que ponto isso é um erro e até que ponto é autêntico. E essa voz da Luisa Toller me abre túneis a todo instante. Ela, ora samba nas palavras, ora solfeja no ouvido. Basta ouvir “Baião para 4 de outubro” e depois “Pirulitou”. Você entenderá, na hora, a versatilidade da garota. Aliás, “Baião para 4 de outubro” me lembrou outra obra-prima da música brasileira: “O milagre dos peixes”, do Bituca. Milton foi capaz de fazer um disco inteiro apenas com falsetes e solfejos. A Luisa também conseguiria fácil, fácil.

Caetano Ribeiro, violão e guitarra, Daniel Coelho, baixo, e Dhieego Andrade, bateria, completam a residência das canções que cedo fugiram para invadir tantas outras. Inclusive a minha e com certeza a tua.

Apenas não fuja de Casa.

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Escritor, compositor, produtor cultural e geminiano. Prefere orquestrar silêncios que causar barulho. É fã das canções que só são absorvidas usando fone de ouvido num lugar isolado.

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