César Lacerda Não Rima Amor Com Dor, em Paralelos & Infinitos

César Lacerda Não Rima Amor Com Dor, em Paralelos & Infinitos

Se em uma das canções presentes no primeiro disco do cantor mineiro César Lacerda, ele diz num tom confesso que: Parece que o amor não vai chegar / Parece, no segundo ele anuncia ao mundo a sua chegada.

Paralelos & Infinitos, o disco-filho de número dois do Artista, chega a nós numa lua cheia de agosto. São 08 faixas que  reverenciam com uma sombra aqui uma luz ali, nada mais que o amor: sedutor, enorme, luzidio, tátil – o amor.

E se para alguns esse sentimento é sempre um jogo cruel, uma expiação ou também um parto, para ele é um voto de reticências, de estender-se e entender-se com o mundo externo.

A relação com a atriz Victoria Vasconcelos foi a fonte que o levou a converter esse instante precioso em  registro, memória, canção.

O que é notado logo de cara em “Algo a Dois” (faixa que abre o disco), por exemplo, onde ele interrompe a história para declarar seu próprio despertar. Declaração essa que se segue até a última faixa.

“Algo a Dois” é fera que mostra os dentes mas não morde! Pelo contrário, faz o mais doce dos carinhos.  É também single e traz consigo um lyric video inspirado na obra de Leif Podhajsky — artista australiano e criador das artes de álbuns do Tame Impala e Foals.

“Touro Indomável” é uma balada irresistível, onde a petulância de uma condição astrológica (talvez), nos é apresentada.

Destaque também para “Gurajuba”, onde César e Victoria dividem os vocais. Música de hálito fresco e cama feita, o título faz referência à Praia de Guarajuba, na Bahia, lugar onde o músico a compôs.

Afirmando que o amor é  essencial, celestial, delicioso, “Love is” é a canção que mais  experimenta: pula do leve ao denso em milésimos de segundo, mostrando a força da “insustentável leveza”. Em “Quiseste Expor Teu Corpo a Nu” o músico é quem se despe, “instrumentalmente” falando também, pois quem fala e grita, pasmem: é o silêncio. É talvez a música que mais o faz despertar não somente para dentro de si, mas também para o que há para além dos olhos de uma outra pessoa, entrada cuja senha é a cumplicidade, o gêmeo de alma que pintam os poetas. A descoberta do ser alma, gêmea, de alguém.

Paralelos & Infinitos é sua estreia bem sucedida na Joia Moderna, gravadora do DJ Zé Pedro. O disco foi produzido por Pedro Carneiro e mixado por Elisio Freitas, que é quem produziu seu primeiro disco “Porquê da Voz”. Na masterização a assinatura é de Bruno Giorgi.

Acostumado com amizades que abrilhantam seu trabalho, como Lenine, o percussionista Marcos Suzano, Carlos Posada e a cantora Juliana Perdigão, ambos participantes de seu primeiro disco, o músico mostra que estar entre amigos ainda é uma constante em seu processo, e conta agora com as participações de Mahmundi, Lucas Vasconcellos, Cícero, Uirá Bueno, Conrado Kempers da banda carioca Dos Cafundós, Flavio Tris, Rafael Mandacaru e João Machala da banda mineira Iconilli.

Com influências corpulentas como DM Stith, Grizzly Bear, Fleet Foxes e o monstro sagrado Milton Nascimento, Lacerda nos presenteia com seu disco-coração.

Com uma ousadia tímida, César não rima amor com dor. Mas também nos mostra que jamais saberemos qual é o artifício necessário para transformar indissoluvelmente duas pessoas em uma só, se antes não experimentarmos pelo menos uma dose desse sentimento. São 08 faixas, 08 doses portanto, de amor servido em doces copos de tequila. Um brinde!

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Lua Palasadany é fotógrafa, atriz, mochileira boêmia e amante latino. Latino mesmo. Um tanto masculino. E é de bar em bar, que escreve sobre música e para a música.

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