Exclusivo: Clara Valente

Exclusivo: Clara Valente

Clara Valente

1. Eu já havia dito uma vez que ela era terra em transe, a cor de uma dança que move subjetividades em viagens terracota. Reafirmo: Clara Valente é uma força elegante e movente. Com uma voz em tom vermelho-doce, como vinho que nos faz corar com seus vapores naturais, a cantora e compositora desfila charme e vigor no EP que agora temos o prazer de lançar.

2. A feminilidade como maneira de habitar o ser não é uma capacidade unicamente da mulher (Chico Buarque e mais recentemente César Lacerda, por exemplo, comprovam isso); da mesma forma que não é toda mulher que habita sua existência dessa maneira, e não há nenhum problema nisso.

3. Quando falo em feminilidade, falo dessa forma singular de habitação da existência. Quando falo de feminilidade, falo de Adélia Prado, de Ariana Morgado, de Malvina, de Tamy, de Leopoldina, de Irene Bertachini e falo também de Clara Valente.

4. O seu EP traz cinco faixas que unem a pulsação do elemento terra (percussão bem marcada e cadência nas faixas Mil Coisas e Pra Te Encontrar) a uma força interpretativa de primeira linha, sempre envolta em aura e voz de mulher – não pela questão unilateral de gênero.

5. Fragilidade e força se harmonizam e criam contrastes que tornam o EP capaz de mostrar a multiplicidade da qual fala a canção que o abre, terminando com a dramaticidade de Ao Cais, uma canção vestida de tango – mas tango mesmo, gravado na Argentina, com orquestra e tudo –, intensa e de cunho pessoal (uma pessoalidade que transcende o indivíduo e que facilmente pode detalhar algo que já aconteceu comigo, com você ou com seu vizinho).

6. Certa vez eu conversava com uma amiga sobre o papel da canção nos dias atuais e em toda essa conversa de sua suposta morte. Ela foi direta e disse: “como pensar na morte da canção com tantas mulheres incríveis em atividade? Não falo apenas do poder concreto da gestação de uma vida, mas também da força poética que envolve o caráter polissêmico de ser mulher.” Concordei alegremente com sua conclusão: mulher não é somente potência poética, ela é poesia.

7. Desde então não discuto mais sobre isso e me deixo encantar por vozes, histórias e pessoas, sem me preocupar com uma tendenciosa falência múltipla dos órgãos da canção.

8. É bom poder constatar que a música de Clara Valente é ela, e vice e versa. Pela minha feliz impossibilidade de definir com exatidão o que cada um é em sua singularidade, deixo claro que o que escrevo faz parte do meu recorte subjetivo do mundo e da música, e fico sempre muito satisfeito quando me deparo com uma musicalidade como a dela.

9. Explorando sonoridades como a do jazz, da MPB, do afrobeat e do tango, esse segundo EP mostra versatilidade e segurança em seu cantar, despertando maior curiosidade sobre o álbum de estreia que deve vir logo mais.

10. Enquanto ele não vem, bom mesmo é recitar esse poema físico e musical que atende pelo nome de… ah, vocês já sabem.

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EP (2013)
EP Clara Valente (capa)01 Mil Coisas
02 Quis Acreditar
03 Pra Te Encontrar
04 Um Dia de Sol
05 Ao Cais
 
 
 
 
 
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Escritor, jornalista e editor. Responsável pela curadoria de conteúdo do Jardim Elétrico.