Clarice Falcão: Tem Conserto (2019)

Clarice Falcão: Tem Conserto (2019)

Esqueça a Clarice Falcão que você ouvia antes. Se, antes, ela transformava amor e desilusão em uma grande piada, o jogo virou. Agora, que a cantora está mais apaixonada que nunca, a música ficou um pouco mais séria, com sintetizadores e sentimentos fluidos em uma melodia seguindo as referências de um universo digitalizado.

A sagacidade está lá, na letra – “Dia D” é um exemplo ótimo de que a Clarice que conhecemos permanece. Mas a
letra já não está mais na frente do todo. O disco “Tem Conserto” valoriza muito mais os arranjos e chega a causar
estranheza, já que perdeu a fofurice de praxe. A mudança é brusca, mas algo me faz pensar que ela já sabia disso – a capa me trouxe à mente a Lady Gaga de 2008/2009, inclusive com as mesmas cores das imagens de divulgação. Gaga é conhecida pela mudança impactante de vertente que realizou de uns anos para cá.

A impressão é que Clarice usou neste álbum o lado sombrio que deixou para trás nos discos anteriores, quando falava do relacionamento que se transformou de obsessão para rompimento. “Horizontalmente” é um pouquinho mais agitada e segue a intensa “Esvaziou”. É como se a artista tivesse, com este trabalho, tirado a máscara de defesas que vinha carregada de bom humor e se permitisse ser a moça engraçada que também sofre.

Sinto que ela vai sofrer o baque da crítica, que não costuma aceitar muito bem grandes transformações. Mas nota-se um trabalho cuidadoso que foi feito e espero que ela consiga coquistar esse novo público que deve surgir com mais “puts puts” e menos ukulelê.

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Carol Tavares é jornalista. Passou pela MTV, pela Bandeirantes e a hiperatividade levou seu caminho a cruzar felizmente com o Jardim Elétrico e criar a produtora Jazz House. Apaixonada por música, pelo amor, por Alberto Caeiro e por seu acampamento no Jalapão.

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