Leveza e Bom Gosto Marcam o Segundo Disco de Oleives

Leveza e Bom Gosto Marcam o Segundo Disco de Oleives

Acho interessante toda essa abordagem estética do “barulho”, da dissonância e atonalidade que cerca a canção na atualidade. Interessante e necessária, aliás. Trabalhos belíssimos e de grande potência surgem dessas explorações, fazendo com que a experiência musical seja mais ampla e abrangente. No entanto, é importante que ela seja coexistente. Acredito que o intuito deva ser a inclusão e não uma afirmação de superioridade. Felizmente, há bastante espaço na música para que o ” clássico” e o “contemporâneo” possam existir e dialogar.

“De Todos os Futuros”, segundo disco do cantor e compositor Oleives, é mais do que limpo, chega a ser cristalino. Instrumentos com timbres claros, arranjos leves e melodias assobiáveis. É bonito no sentido clássico do termo, do início ao fim. O filósofo inglês Roger Scruton defende a ideia de que belo é tudo aquilo que tem o poder de nos confortar, de nos emocionar. Um lugar para o qual vamos quando precisamos de descanso daquilo que é feio e que de alguma forma desagrade nossos sentidos ou nosso coração. Sob esse prisma, Oleives nos presenteou com algo como uma lareira que pode aquecer nossos corações.

Essa poética do devaneio se dá porque somos expostos ao bucólico, ao sensível. Deslizando entre o pop e o blues, “De Todos os Futuros” é um álbum liricamente aconchegante. Cancioneiro e meio folk, o trabalho reúne um time de ótimos instrumentistas (entre eles, Marcos Suzano, Alberto Continentino, Lincoln Cheib e Frederico Heliodoro), além de contar com a participação luxuosa do gaitista americano William Galison, que já acompanhou nomes como Sting e Madeleine Peyroux. A delicadeza instrumental é tocante e casa perfeitamente com a voz de Oleives.

Junto a Affonsinho e Bernardo do Espinhaço, Oleives talvez possa ser considerado o compositor mineiro mais capaz de nos levar em direção ao belo clássico, ao lugar onde podemos repousar a alma e nos entregar por inteiro. É tudo redondo, límpido. Não é à toa que o disco levou três anos para ser gravado. Das letras à altura dos instrumentos, é evidente o esmero, cuidado e preocupação com o ouvinte. A produção e a paciência do renomado Robertinho Brant foi essencial para isso.

É ao me deparar com CDs assim que tenho plena certeza de que os grandes meios de difusão estão falidos, que são comandados pela quantidade que se paga e não pela qualidade da oferta. Incrivelmente radiofônico e de bom gosto, chega a ser impressionante que algo do quilate de “De Todos os Futuros” não esteja circulando livremente pelos grandes meios de comunicação.

Abram os ouvidos. Mais do que isso: abram o coração e acomodem-se em frente à lareira.


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Artista/Banda: Oleives
Álbum: De Todos os Futuros
Ano: 2015

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Escritor, jornalista e editor. Responsável pela curadoria de conteúdo do Jardim Elétrico.