Loki – Arnaldo Baptista 1974

Loki – Arnaldo Baptista 1974

Depressão, angústia, ódio social, isolamento, Ovni´s. Este é o recheio de um dos discos mais melancólicos da música brasileira, composto em sua mais profunda depressão. Neste disco, Arnaldo Batista mostra seu ressentimento, ódio, desprezo, decepção sobre sua vida, em especial, a depressão que caiu após a separação com Rita Lee.

Primeiro trabalho solo após sua saída d’Os Mutantes, Arnaldo conseguiu entrar pra história da música brasileira com um disco que sempre está na lista das obrigações para se escutar(e aqui não poderia ser diferente).

Entregue ao estrangeirismo, a maior parte da música brasileira estava se transformando em uma cópia do que as indústrias norte americana e inglesa divulgavam. O próprio Mutantes haviam se tornado muito mais uma banda de rock progressivo do que aquela banda que mesclava tudo em suas composições. Rita Lee sairia da banda por este motivo e Arnaldo decidiu deixar um ano depois. Após isso, Arnaldo se afundou em uma depressão que lhe rendeu até uma internação em um hospício.

Ao disco.

A abertura do disco é com a magnífica “Será que vou virar bolor”, onde ele mostra que certamente tem um prazo de validade nesta terra de granito. A procura por renovação em sua sonoridade é explícita e muito bem detalhada.  O disco segue com “uma pessoa só”, regravação do clássico d´Os Mutantes, do disco O A e o Z.

“Não estou nem Ai” mostra a indiferença que ele está tendo, naquele momento, para tudo. “Eu não tô nem ai pra morte, não tô nem ai pra sorte, eu quero mais é decolar toda manhã”. Um refrão bem rock.

Seguindo por “Vou me afundar na lingerie”, o disco continua num clima musicalmente mais alto, porém com uma poesia de cair. “Ainda bem que agora eu não tenho cabeça, Ama-me ou deixe-me em paz, Imagine só, Xuxu beleza, Tomate maravilha, É a última moda”…

“Honky Tonky (Patrulha do Espaço)” é uma música bem mais puxada ao jazz, com temas que lembram em muitas passagens Tom Jobim, para depois seguir com a faixa título do disco”Cê tá pensando que sou Lóki?”. Um estilo bossa nova bem bacana, com uma letra de arrepiar, bem intimista mesmo.

“Desculpe” talvez seja a música mais melancólica da música brasileira. Bem objetiva, é um recado para Rita Lee, ex-esposa e ex-companheira de banda, com um tom de arrependimento que faz cair lágrimas até quem tem um coração extremamente gelado.

“Navegar de novo” segue a melancolia de desculpe, com uma letra mais chorosa. O piano é quem dá o tom de destaque, com uma poesia um tanto atual. “Que está muito dura a vida nesta cidade de SP”… ‘Por que não se instalam núcleos habitacionais menores para haver maior descentralização’. Um gênio.

Em “Te amo podes crer”  é o andamento na tristeza. O piano parece chorar junto a sua voz. O disco fecha com a música “É fácil”, com um violão um tanto flamenco, com uma letra simples.

Sem querer, ou por sua inspiração sentimental, este disco consegue ser um tanto suicida. Mesmo no manicômio, ele era capaz de transformar sua loucura em poesia bruta.

Neste disco tem de tudo. Tem referências as músicas brasileiras como Tom Jobim, Jovem Guarda, jazz, bossa nova… Tudo havia espaço nas composições de Arnaldo que, mesmo na mais profunda depressão, conseguia transmitir seu sentimento de maneira bem clara.

“Assim que terminou de gravar o disco, Arnaldo desequilibrou-se e tombou corda abaixo, caindo para o lado dos loucos, como anunciara que faria na “Balada do Louco”, anos antes. Esquecido pela mídia, foi internado pela família, retornando com força ao cenário musical somente décadas mais tarde.”  Carlos Viegas

lokiPara este disco, não poderia ser diferente. A cerveja indicada é a Fearless Loki Red Ale, uma cerveja avermelhada, bem forte, teor alcoólico de 7,6% e um sabor bem marcante, combinando perfeitamente com carne vermelha sangrando, bem ao estilo da morte.

Espero que todos tenham ótimas festas de fim de ano. Neste momento darei uma pausa e volta em 2017 com diversos discos e cervejas (caso a cerveja não me leve antes, no natal ou ano novo).  Um ano novo repleto de discos maravilhosos para todos nós, e que este Jardim Elétrico possa crescer cada vez mais!

Vejo vocês em 2017

Share Button

Pedro Cindio - Jornalista narigudo, músico frustrado e apaixonado por música, tenho um toc de só escutar discos completos. Cervejetariano e feio, mas meu humor salva a aparência.

Recommended Posts