Novos Baianos – Acabou Chorare 1972

Novos Baianos – Acabou Chorare 1972

Não tem com começar a falar em música brasileira sem citar essa magnífica obra. O segundo LP do grupo, lançado originalmente pela Som Livre, marcou a história da música brasileira não apenas pela obra, mas por tudo que influenciou e representou depois de seu lançamento.

Falar bem do disco é chover no molhado (perdoem a expressão tão senso comum, envergonho-me as vezes), mas não tem como não disseca-lo sem babar pelas composições.

O disco tem como formação :

Baby Consuelo – vocal, percussão (maracas, triângulo e afoxé)

Paulinho Boca de Cantor – vocal, percussão (pandeiro)

Pepeu Gomes – guitarra elétrica, violão solo, craviola, arranjos

Moraes Moreira – vocal, violão base, arranjos

Dadi Carvalho – baixo elétrico

Jorginho Gomes – bateria, cavaquinho, bongo

Com isso já podemos ver que a mistura será sensacional. Mas vamos às faixas, que é o que realmente importa nesse disco.

O Lado A do disco abre com um samba bem interessante, “Brasil Pandeiro” de Assis Valente. Essa música por onde vamos pelo Brasil é conhecida. Em uma entrevista que fiz com Moraes Moreira, ele me falou que estava em um voo para a Europa (nem ele lembra qual lugar estava indo) quando uns alemães olharam pra ele e começaram a cantar a música, em um português bem precário. Ela atravessou fronteiras e gerações.

Em “Preta Pretinha”, de Luiz Galvão e Moraes Moreira, o som volta-se mais para o choro, claro que não aquele clássico mas um primo pobre, assim podemos dizer.  Nelson Mota já dizia que o som dos Novos Baianos era como se fossem estudantes sem entender de nada, simplesmente faziam sem saber dos resultados. Muitas vezes saia uma coisa simples e sofisticada, e muita sofisticação saia pobre. Esse choro enquadra-se perfeitamente nessa colocação.  Não que seja algo ruim, totalmente o contrário, é uma música simples de harmonias fantásticas.

“Tinindo Trincando” é rock. Aliás, podemos falar sem medo que se encaixa no metal com elementos brasileiros facilmente. O peso que a percussão coloca junto com a virtuose da guitarra chamou atenção de diversos músicos pelo mundo. A quebrada de contratempo também deu uma sonoridade diferente, coisa que poucos artistas faziam na época, como Ronnie Von e Clube da Esquina. A letra dessa música é facilmente relacionada à cocaína (algo que os músicos nunca confirmaram, mas também não negaram).

“Swing de Campo Grande”  , composição de Paulinho Boca de Cantor ,  Galvão e  Moreira é bem típica brasileira. Com violão explicitamente influenciado por João Gilberto, a batida da música vai crescendo conforme os acordes aparecem. Um belo samba de salão.

Para fechar o Lado A, vem a faixa título. “Acabou Chorare” é João Gilberto puro, não apenas uma influência. Assim como João Gilberto influenciou Acabou Chorare, este influenciou seu álbum de 1973, João Gilberto, considerado o seu mais psicodélico, a começar pelos arranjos minimalistas e transgressores da percussão, com ritmo e dinamismo típicos dos Novos Baianos. Uma curiosidade, no show da turnê atual de Moraes, que ele toca o Acabou Chorare inteiro, antes da faixa título ele falou discretamente no show de BH “Acende”.  Pra bom entendedor…

O Lado B abre com “Mistério do Planeta” e logo em seguida “A Menina Dança”. Ambas são bem típicas da nossa MPB, com um pouco de peso, claro. As guitarras de Pepeu brilham e Baby dá um show de voz em “A Menina dança”.

“Um bilhete para Didi” é uma composição de Jorginho Gomes a Diego, irmão de Pepeu e  que hoje é contrabaixista de sua banda. Um ótimo instrumental.

Para fechar, uma versão mais curta de Preta Pretinha – metade da duração da primeira faixa-. Era bem comum os músicos gravarem versões mais curtas, editadas para as rádios, porém incomum colocar no disco.

Após ouvir o disco, podemos ver o quanto ele influenciou gerações e que até hoje é um marco na música brasileira. A herança deixada de experimentalismo, essa coisa de não se prender apenas a um estilo e tentar criar algo novo foi uma característica forte nos anos 70 e esse disco foi uma das maiores influencias para isso.

delirium

Para acompanhar o disco, escolhi uma das melhores cervejas do mundo.

Delirium Tremens – Belgian Golden Strong Ale, Ale, 8.5%ABV, garrafa 330ml. Cor: Dourada, levemente turva.

Espuma: Boa formação e média duração, de cor branca, boa consistência.

Aroma: Malte, doce, frutado (abacaxi), fermento, fenólico, picante, condimentado,leve álcool.

Paladar: Malte, doce, frutado (abacaxi), fenólico, picante, condimentado, álcool, bom amargor final, bom corpo.

Ótima cerveja. Uma clássica belga que deve ser degustada por todos que se interessam por boas cervejas. Combina muito bem com queijos e carnes com tempero forte, como bistecas de porco ou pernil.

 

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Pedro Cindio - Jornalista narigudo, músico frustrado e apaixonado por música, tenho um toc de só escutar discos completos. Cervejetariano e feio, mas meu humor salva a aparência.

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