O Pão Que o Diabo Ama Sou, Ama Você e Não te Larga

O Pão Que o Diabo Ama Sou, Ama Você e Não te Larga

Depois do EP Esquinas, Janelas e Canções, Edu vem novamente nos serenar.

Mas agora com o disco O Pão Que O Diabo Ama Sou.

Edu Sereno traz no bolso O Pão Que o Diabo Ama Sou: sua mais nova cria, lançada dia 12 de outubro, no SESC Ipiranga, em Sampa. E antes que esse pão saísse do forno e fosse lançado definitivamente em alto-mar, ouvi cada uma de suas músicas com aquela expressão de quem mais tem a mente sendo expandida do que a alma sendo salva. O álbum, é uma certidão de casamento entre canções-gestações — que o Artista já vinha apresentando por todo o Brasil em uma tour com mais de 40 shows — e um cotidiano vivo que o circula.

O AP 71, apartamento que dividia com mais quatro pessoas no Bixiga juntamente de sua relação com o lugar onde fora criado no bairro da Penha, é o que formam o ruído poético de suas composições. Inclusive, a canção Mantra, presente no disco, foi transformada em um MiniDoc e mostra mais detalhadamente essa relação.

As composições são do Edu, mas nomes como Henrique Athayde, Arthur Krokovec, Marco Vilane, Ale Gomes, Daniel Brou, Livia Humaire e Dudy Cardoso aparecem em algumas delas.

Junto de Rafa Moraes, Marcelo Sanches, Bruno Marques, Beto Vasconcelos, Otávio Carvalho e Jota Erre, Sereno viscera (do verbo viscerar, que não existia até esse disco vir a cabo), a rotina e romantiza o agora marginal, no O Pão Que O Diabo Ama Sou.

AUSÊNCIA

Quando há um espaço a mais na mesa onde antes havia sempre dois pratos, percebe-se o desconforto da inexistência. O espaço na mesa fala de maneira diferente, esperando uma voz que não chega. Esse intervalo entre o que era e o que deixou de ser só é percebido de fora da casa, por aqueles cujo olhar penetra nos instantes mesmo sem ser convidado. Os pratos não existiram na prática, mas ilustram com excelência os buracos que o olho desacelerado do Artista consegue enxergar:

Confesse a si mesmo

O que sente acerca de nós
Se apresse lentamente
Abra sua mente a cada por do sol
Quem perdeu pode encontrar

Simples assim – Confesse

Cê vai lembrar
Da canção que eu te fiz
Cê vai lembrar
Da chuva no quintal
Cê vai lembrar
Daquele chafariz –
Cê Vai Lembrar

Você e essa agenda egoísta,
É um grande risco se seguido a risca.

Pois te consome o tempo voa
E é fato consumado a tua ausência ecoa –
Agenda

PRESENÇA

Se o cabra não percebe de livre e espontânea vontade que o lugar em que ele vive é parte do seu esqueleto e está à altura dos seus sonhos, tem de ser obrigado a isso. É preciso fazê-lo lembrar da função soneca do celular, da garrafa térmica, dos walkie-talkie’s-tweet’s-facebook’s-whatsApp’s, da agenda telefônica, do taxímetro, das pílulas para dormir, do apêndice, dente do ciso, unha encravada, versículo bíblico — para fazê-lo em seguida, esquecer de tudo isso e gozar exclusivamente das memórias leves. É preciso obrigá-lo a falar e a glorificar o quintal de casa, o vizinho turrão, os fogos de fim de ano na laje e a jogatina de bola na rua com ladeira. Até que consiga parar de terceirizar a simplicidade, tornando-se parte dos lugares em que já existiu ou existe. Até que aprenda desmarcar compromissos na agenda.

E o tempo por sua vez passa a correr
E eu, como o tempo, correndo atrás de viver —
Ventar

Um minuto pra calçar o pé
Meia hora pra chegar à sé
Dois minutos pra ferver a água do chá —
Mantra

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Lua Palasadany é fotógrafa, atriz, mochileira boêmia e amante latino. Latino mesmo. Um tanto masculino. E é de bar em bar, que escreve sobre música e para a música.

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