O Pop Afrotranscendente do Ibeyi

O Pop Afrotranscendente do Ibeyi

Filhas do lendário percussionista Miguel “Angá” Díaz, do Buena Vista Social Club, as gêmeas Lisa Kainde e Naomi Díaz formam o Ibeyi, duo onde combinam suas personalidades e gostos musicais para formarem uma verdadeira entidade. Com letras em inglês e iorubá, o primeiro disco delas, lançado esse ano pelo selo XL Recordings, vem causando alvoroço no meio musical.

A palavra ibeyi (ibeji) diz respeito ao orixá dos gêmeos na religião iorubá. Uma entidade que goza de grande respeito na África (sincretizado aqui no Brasil nas figuras de Cosme e Damião) e que representa também a dualidade e contradição. Vendo por esse ângulo, isso explica como as diferenças entre as irmãs Díaz puderam criar algo tão forte e inusitado – as duas são mesmo muito diferentes, tanto em aparência quanto em personalidade, como fica claro em entrevista ao The Guardian.

Criadas entre Cuba e França, as duas trazem para o seu som a força ancestral da cultura africana com toques de música pop, hip hop e jazz e o resultado não poderia ser mais impressionante. Delicadas e ao mesmo tempo espiritualmente fortes, suas mensagens parecem flutuar em um mar de referências, que vão de Nina Simone a Björk.

Lisa e Naomi mergulham fundo em sua herança cultural/musical.  Em alguns momentos, cantos aos orixás são entoados; em outros, letras que falam sobre saudade e outras experiências mais humanas. Há momentos também em que misturam o físico e o metafísico, o sagrado e o profano, dando ao disco uma atmosfera onírica e cativante.

Engana-se quem acha que por conta da sonoridade musical voltada ao euro-pop, a música da dupla possa ser considerada superficial. Da mesma forma co fazem nomes de peso como Virgínia Rodrigues, Metá-Metá e Tiganá Santana, seriedade e profundo respeito religioso permeiam o trabalho do Ibeyi.

Share Button

Escritor, jornalista e editor. Responsável pela curadoria de conteúdo do Jardim Elétrico.