Resenha: Peri Pane

Resenha: Peri Pane

peri pane

Já diria o poeta do nada, Manoel de Barros: “ao homem faz bem desexplicar, tanto quanto escurecer acende os vagalumes”.

O multiformas Peri Pane, codinome de Marcos Dávila (não necessariamente nessa ordem), mistura a palavra pesada do jornalista e o desafio estético do artista plástico para alcançar uma música que se faz de texto e desexplicação.

Em meio às batidas de violão quase sempre parcas, entrecortadas por delírios singelos de violoncelo, acordeon e piano, a simplicidade que habita a canção é um mero desengano de quem ouve. Há nela caminhos tortuosos e obscuros, que vão e vêm. Sopra-se a matéria, resta a estranheza.

Em “Canções velhas para embrulhar peixes”, Peri Pane segue a linha de suas outras intervenções pluriculturais, fugindo do convencional à medida em que busca a sensibilidade da introspecção e a agudez da filosofia. “Deixe-me ver com mais carinho, com mais clareza, qual a cor (…) Deixe-me ver um pouco mais de perto quantas estrelas além desse teto. Deixe-me ver na sua pupila seus apuros, sem máscaras nem muros”, convida o espírito provocador do artista em “Pulo”, uma das tantas parcerias com o poeta arrudA.

No mais, sua voz é pequena. Aproveita os espaços que lhe são de direito, sem alarde. Faz da música um ato de timidez, contemplação e artesanato. Artesanato presente também no cuidado de cada exemplar do disco, feito à mão pelo artista plástico Rafael Gentile, em uma iniciativa inspirada no coletivo Dulcinéia Catadora.

Acompanham Peri Pane os músicos Otávio Ortega, no piano e acordeon, e Marcelo Dworecki, no violão de aço e cavaquinho, quem também assina a produção musical do trabalho. Na faixa “Saudade”, participa – mais que especialmente – a emblemática Alzira E.

Juntando todos os refluxos, trata-se de uma obra criativa de um indivíduo que há tempos já se mostra criador. Um convite para um mergulho de novidades exóticas. Há os que se perderão no escuro e verão um disco menor. Outros verão os vagalumes e seu brilho. Nesse sentido, Peri Pane estica o máximo que pode a proposta da arte elástica, que se polariza e exagera, formando públicos e não públicos.

Mas estamos no caminho certo de dizer o que se deve. Um dia desses (isso tudo) repercute…

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Estuda música desde os 13 anos, desenvolve pesquisa na área da música independente , produtor de bandas de diversos estilos e compositor de trilhas sonoras.

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