Resenha: Phillip Long

Resenha: Phillip Long

541011_461136413960019_190609740_n

“A nossa vida
não é só a carga dos anos.
A nossa vereda
não é só o caminho interminável.
Nenhum poeta tem o dever
de cantar a antiga canção.
A flor murcha e morre;
mas aquele que a leva
não deve chorá-la sempre…
Irmão, recorda isto, e alegra-te.”
Rabindranath Tagore

 

Todos nós precisamos nos movimentar, é necessário correr o mundo das ideias, dos desejos e das emoções com autenticidade, criar caminhos acessíveis, onde podemos trilhar com ou sem companhia. A construção de um caminho se dá pela entrega, pela capacidade de nos moldarmos e de constantemente nos construirmos. Se caminhar já é difícil, imagine criar caminhos.

Arrisco dizer que “Seven” é o disco mais completo de Phillip Long. Síntese de tudo o que aprendeu em seus trabalhos anteriores e do que está aprendendo. Um trabalho mais sólido e mais ousado, onde ele se permite mais abertamente a experimentar. As letras de tom intimista e a forte carga emocional ainda são fortes características, convidando a nos aproximarmos cada vez mais da essência do criador delas, assim como a forte espiritualidade, evidente na escolha do nome e nos detalhes de lançamento (foi lançado no dia 7, às 7 horas da noite).

A figura de Phillip Long vem se desenhando disco a disco, faixa a faixa, de maneira bastante natural. Mas parece que agora os contornos dessa figura se mostram de maneira bem mais definida. Aderindo à sonoridades mais pops, com algumas doses de AOR, o novo disco se estende e se alarga, torna-se vibrante em músicas como a ótima Living On The Edge (um hit por natureza) e The End Of The Line, enquanto mostra versatilidade e técnica em Devil’s Line, um blues envenenado onde os solos de guitarra de Eduardo Kusdra reinam absolutas.

(É claro que ainda existem aqueles que possuem a velha e convencional mentalidade de que tudo o que é pop é decadente, gente de papo chato, que acha que só aquilo que não é possível de entender é bom. Gente mal amada eu diria. A estes só o santo orgasmo salva.)

Ainda é o Phill do já clássico “Man On a Tightrope” e também de “Caiçara” e “Sobre Estar Vivo”, no entanto, é ainda um artista amadurecido, jogando os dados de acordo com as suas possibilidades, e parece que o resultado desse último rolar de dados foi mais que satisfatório, impulsionando-o para adiante, ampliando-o para além de neuroses alheias.

Um trabalho a muitas mãos

Eduardo Kusdra é sem dúvida um homem de visão, além de ser um grande produtor e um arranjador de incomum talento. Se “Gratitude”, o disco anterior de Phill, é uma ode ao amor, “Seven” é sobre a nossa falta de controle sobre o amor do outro, nossa impotência frente à individualidade e ao acaso. E o que tinha tudo para ser um disco soturno, nas mãos de Kusdra tornou-se radiante e vivo, sempre respeitando a essência de cada uma das músicas que o compõem.

Um ótimo exemplo disso é a forma com que uma música tão forte e pesada quanto Insane é vestida: quase bem humorada e irônica, deixando sua interpretação um pouco mais aberta; o preenchimento dos espaços pela bateria bem colocada de Albino Infantozzi, pelas guitarras no melhor estilo country e pela voz de Maria Eliza, que mais uma vez brilha ao lado de Phillip Long, trazendo o contraste necessário para quatro faixas do álbum.

Por fim, só me resta dizer que “Seven” me impressiona por sua energia e por seus refrães contagiantes, mas muito mais por unir esses elementos à profundidade natural de seu criador, provando que tudo depende de competência e talento. Sem dúvida um dos healiners no grupo de melhores discos independentes de 2013.

Share Button

Escritor, jornalista e editor. Responsável pela curadoria de conteúdo do Jardim Elétrico.

Recommended Posts