Macbeth

Macbeth

Fazer uma leitura de uma obra como “Macbeth”, de William Shakespeare, é um desafio por diversos motivos. Seja pela inclusão do novo espectador ao idioma inglês antigo e arcaico, independente qual for sua mãe-língua; pela imersão a uma leitura, a uma perspectiva mais fantasiosa e também, pela adaptação de uma linguagem mais teatral e verborrágica. Afinal, trata-se de uma peça, uma das mais famosas do autor britânico.

E é neste viés que o novato diretor australiano Justin Kurzel que possuí somente “The Turning”, de 2013, em sua cinematografia, explora em seu novo filme, que leva o mesmo título da obra shakespereana. “Macbeth” apresenta o personagem título como um soldado corajoso e honesto, que após ouvir a profecia feita por bruxas ao fim de uma batalha, de que se tornará Rei da Escócia, o imerge em uma aventura penumbrosa de ambição, horror, caos e deslealdade consigo, sua família e desconfigura o afeto de seus companheiros de armadura.

O roteiro traz um Macbeth mais perturbado e implicante. Lady Macbeth é persuasiva e manipuladora, que também se amedronta pelas consequências da profecia e da continuidade do reinado de seu marido. As interpretações de Michael Fassbender e Marion Cotillard conduzem primorosamente ambos os personagens, expressando química e compreensão artística. Os diálogos e as narrações, como citei anteriormente, são feitas através do inglês antigo (old english) e as traduções para o português, codificam na conjugação do pretérito mais do que perfeito, respeitando a tradição quase alquímica do idioma.

A direção de arte e a fotografia manuseiam o filme de um jeito tão perfeito que beira catarse. O avivamento das cores, a composição das paisagens externas com personagens, o tratamento com luz, sombras e fachos de sol dentro de interiores trazem apontamentos quase sagrados. O filme é escuro, mas nada que impossibilite a absorção visual. Em algumas cenas, os castelos assemelham-se a igrejas, reforçando meu olhar à respeito da religião movimentando os ideais dos arcos de maneira mística. A trilha sonora abusa de acordes e timbres fúnebres, com crescendo e toques sinfônicos. Tudo se relaciona com o fundo épico do filme.

“Macbeth” talvez leve tempo para acertar suas características cinematográficas. Demora para se acostumar ao ritmo de prosa, da conversação formal e poética em abundância. No entanto, ao se acertar, conduz o filme para um desfecho fascinante. É uma glorificação à peça, uma reverência às imposições artísticas e multi expressivas que uma leitura de obras épicas poderiam fornecer.

Confira o trailer

Ficha Técnica
Macbeth
Ano de Lançamento: 2015
Diretor: Justin Kurzel
Elenco: Michael Fassbender, Marion Cotillard, Paddy Considine, David Thewlis.

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Jornalista hiperativo, estranho e que ama falar e escrever. Sou o que sempre busco ser. Comunicar e mudar as pessoas. Levar o bem através de tudo que amo!