Se Faltar a Paz: Minas Gerais

Se Faltar a Paz: Minas Gerais

Enquanto está todo mundo preocupado com o que é a MPB (tanto faz se nova ou velha), ignorando a possibilidade dessa conversa não levar a lugar nenhum além de discursos pomposos e labirínticos que mais confundem do que esclarecem, a música continua sua trajetória de encantamento, de resistência e de transcendência. Independentemente de rótulos, ela segue seu caminho.

Por que então listar discos de “mineiros”, se o território não importa?

Simples: já que em toda lista que tende a ser feita por “especialistas” pouquíssimos ou nenhum desses cantores e compositores são mencionados, não vejo nada de errado em seguir contra o fluxo.

Antes de mais nada, preciso deixar claro que, assim como toda e qualquer outra opinião, o que exponho aqui é apenas um recorte, não uma verdade absoluta. A minha intenção é expor determinados álbuns como possibilidades para uma outra cartografia da canção (embora alguns deles sejam instrumentais) feita no Brasil.

A cidade de São Paulo, assim como qualquer território, é constituída por uma miscelânea cultural. Tem rap, tem rock, pagode, tem samba, funk e tem jazz – um fenômeno natural, já que em sua paisagem humana é também muito diversificada. Além disso, São Paulo é um lugar onde intensos encontros culturais acontecem o tempo todo.

Talvez por isso me incomode tanto o fato da paisagem musical dela ser representada por alguns poucos nomes mais valorizados no “novo” mercado (seja ele independente ou não), negligenciando propostas por vezes mais consistentes e influenciando o modo como as pessoas dentro e fora de seu eixo se relacionam com a música de maneira geral. Esse mesmo incômodo pode acometer o leitor dessa matéria que também tenha conhecimento da música mineira atual e que discorde quanto à importância ou peso de alguns discos e isso sinceramente não me importa.

Eu particularmente me preocupo com um micro-cosmo e tenho para mim que Minas Gerais é atualmente responsável por alguns dos compositores e músicos mais interessantes da atualidade. Ponto. Não se trata apenas de território, mas de um éthosreconhecível e recorrenteem cada um desses trabalhos. A minha escolha é afetiva, traduz o modo como eu enxergo as relações entre música, espaço e tempo.

No geral, a minha proposta é básica e até ingênua: construir uma linha narrativa a partir do éthos contido no fazer autoral de compositores, cantores e músicos mineiros.

Crítica não é ciência, nunca foi. Qualquer um que queira impor suas regras em torno de algo que é afetivo não terá a minha atenção. Enquanto a maioria dos discursos exalta em sites e jornais o luxo e ousadia da roupa do rei, outros preferem chamar atenção para a sua nudez.

E você, o que você vê?

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Escritor, jornalista e editor. Responsável pela curadoria de conteúdo do Jardim Elétrico.

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