Sylvio Fraga Quinteto dá aula de musicalidade em lançamento do novo disco

Sylvio Fraga Quinteto dá aula de musicalidade em lançamento do novo disco

São Paulo – Nessa quarta feira (16) o compositor e poeta carioca Sylvio Fraga apresentou no Teatro Itália o show de lançamento de “Cigarra no Trovão” (2015, Discole Música), seu segundo disco. O local escolhido parecia deixar entrever o que estava por vir. O famoso teatro, situado no Edifício Itália, lugar icônico da cidade, é um exemplo de bom gosto, com excelente acústica e uma sala de espera de encher os olhos. Parece até impossível que algo mediano possa ter espaço ali, aspecto que traz um grande desafio para quem se aventura a pisar naquele palco. Menos para Sylvio Fraga e seu afiadíssimo Quinteto.

Formado por José Arimatéia (trompete), Lucas Cypriano (piano), Bruno Aguilar (baixo) e Mac Willian Caetano, o time que acompanha o jovem músico deu uma aula de coesão e qualidade técnica aos que estavam presentes. Com repertório focado no disco novo, o próprio Sylvio se permitiu brilhar ao esbanjar sua intimidade com as seis cordas.

Em músicas como “Fanta Laranja” (Sylvio Fraga), “Quartinho” (Sylvio Fraga e José Arimatéia), “Clara” (Sylvio Fraga), “Blue Whale” (Sylvio Fraga e Matthew Rohrer) e “Samba da Cigarra” (Sylvio Fraga), fica evidente que Sylvio já possui uma assinatura inconfundível – uma mistura entre jazz e música brasileira embalada por sua voz doce e suave. Duas músicas do disco “Rosto” (2013, Independente) encorparam o setlist. Foram elas “Circus” (Sylvio Fraga e Pedro Dias Carneiro) e a bela “Norte” (Sylvio Fraga). O coro vocal é um elemento importante do novo trabalho e foi reproduzido com muita qualidade ao vivo nas músicas “No Canavial Alienígena” (Sylvio Fraga, Matthew Rohrer e Pedro Dias Carneiro) e “Bolo de Jabuticaba” (Sylvio Fraga). A noite contou ainda com a participação de um quarteto de cordas e um trio de sopros, que deram um clima etéreo às composições “Pedras Brancas” (Sylvio Fraga e Eucanaã Ferraz), “Ave da Cidade” (Sylvio Fraga e José Arimatéia) e “Matissiana” (Sylvio Fraga e Eucanaã Ferraz). A irreverência também marcou presença quando o muito bem afinado quinteto nos brindou com uma versão mezzo samba/mezzo pop de “The Way You Make Me Feel” (Michael Jackson), divertida e com ótimas sacadas instrumentais. Além disso, duas novas músicas foram apresentadas, sendo uma delas mais um fruto da poderosa e entusiasmante parceria entre Sylvio e o compositor Thiago Amud.

Não dá para falar em destaque individual. Do início ao fim, o entrosamento entre os músicos criou atmosferas ricas, cheias de cores e texturas, onde cada um contribuiu na mesma medida com o seu talento. Os ataques precisos do trompete de José Arimatéia, o ritmo incrível precisão de Mac Willian, o groove de Bruno, as intervenções certeiras de Lucas. Tudo isso, aliado ao timbre limpo da guitarra do lider do grupo, fez valer cada minuto do atraso de 1 hora.

Ao ouvir o disco assim, ao vivo, ele soa mais orgânico, mais rico nos detalhes que às vezes deixamos passar na audição da versão de estúdio. Sim, o disco possui um nível de qualidade muito elevado, mas ao ser executado ao vivo ele consegue ser ainda melhor. Impecável é a primeira palavra que me vem à mente para descrever o que foi ouvir o canto da cigarra do Sylvio Fraga Quinteto a ribombar junto ao Trovão.

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Escritor, jornalista e editor. Responsável pela curadoria de conteúdo do Jardim Elétrico.