Vamos para a praia de Leo Versolato?

Céu azul, praia de maré cheia, pescador voltando do mar com peixes para o almoço. Poderia ser o começo mal executado de um romance de Jorge Amado, mas é a sensação principal do clipe “Sereia”. Leo Versolato me convence que música pode – e às vezes deve – ser solar.

Os primeiro fragmentos me tomam na premonição errada que seria dramático, apesar do título praiano. Leo é acompanhado daquela contagem padrão de filme antigo: 4, 3, 2… E lá vem ele! Ainda imaginaria, sem conhecer a letra, que poderia se tratar de um amor arrancado do peito, de despedidas e lágrimas que se misturam com as gotas de um mar salgado. Nada disso. O rapaz de camisa azul, de barba quase comprida dança e canta como quem se diverte. As cenas se completam em dois planos, (ora se dividindo na tela) e atrás dele existem imagens brincando com o sentido da música. Uma mulher vestida de vermelho ainda passeia, lindamente, sobre as areias de uma praia calma. Tudo isso feito de uma melodia mais rápida e encaixada.

Acostumei-me a escrever sobre o mar e sobre a presença inevitável dessa força maior que todos os homens, mas quando sou exposta à “Sereia” vejo que não é preciso, que Versolato faz isso muito melhor do que eu, sem crônica ou parnasianismo nenhum. Definitivamente é solar, toda a sensação de frescor da praia.

O que é intrigante, e inevitavelmente sarcástico da forma certa, é a letra da música. Já conhecia Leo Versolato de “Santo Bom” e “O Vento e a Flor”. Na época estava convencida que o mesmo rapaz dançante de agora sabia falar, seja lá do que fosse.

O cantor parece ter liberdade no verso, fazer o casamento das casas e rimas, sílabas que dançam tanto quanto sua pessoa. Tudo faz sentido em sua obra, no álbum Santo Bom, lançado em 2013. Ainda intrigada, dou uma lida na letra do clipe. Leio de novo. Continuo lendo, e cada vez mais aparecem detalhes de alguém que está melhor sem uma pessoa, que é alegra, afinal. A última estofe poderia ser um fado português, cantado e chorado em palco. Mas é Leo Versolato e sua praia, cheia de ondas e marolas, feito pra mostrar que letra e melodia se abraçam e se deitam, com ou sem valsa:

“No fundo coral

De pranto, de sal

A fome das naus

À beira do mal

(Meu bem)”

O clima ainda é de praia, já que o mar é meu vizinho, mas Leo dá a chance, com essa música, de comemorar final de semana, esparramar em rede e se libertar de algo ou alguém que já não importa. Ele vai e volta em um mesmo espaço, cada vez mais confiante, mais sincero e bonito. Só tome cuidado: essa música provavelmente vai te colocar pra dançar, quando menos perceber.

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Mariana é de gêmeos, capixaba e jornalista, não necessariamente nessa ordem. Está em dúvida se gosta mais de ler ou de escrever. Espero que nunca descubra.

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