Resenha: Versos Que Compomos na Estrada
Tira esses olhos de mim.
Invento, no meio dos delírios do mundo, uma cama com linho e sol. Desperto e adormeço à inebriante paz. Perdido na confusão de tanto caos, de tantos nós. A poesia costura o barulho do trânsito e me lança aos retalhos destes menestréis da simplicidade.
Tira esses olhos de mim.
Com pés de lã. No silêncio do poeta que abre varanda para nossas grandes venturas. Posso ver lírios. Sinto-os. Manoel de Barros se foi e tudo parece ainda tão presente na poesia desse duo. Eles, que vejo no horizonte trêmulo com os olhos úmidos, tendo o sol alaranjado como plano de fundo.
Feito Versos que compomos na estrada. Feito um céu de cimento e cal que nos acostumou.
Aqui se faz a mescla perfeita do folk com a delicadeza das noites de chuva, pelas vias particulares e intimistas do inigualável “Francesco” (Giannini 1940, pequeno, dono de um timbre único), o violão que carrega água na peneira.
Tira esses olhos de mim.
E põe no coração as vozes de Lívia Humaire e Markus Thomas: nossos arquitetos dos vilarejos da música. Que dizem com o pó dos barrancos e com a terra batida das ribeiras. Nossos gentis e bucólicos Beatniks.
Os poetas das viagens interiores, dos versos mais doces, dos dias mais frios, dos sentimentos mais fundos. E tudo produzido por Daniel Altman, compositor e arranjador do Grupo “Pitanga em Pé de Amora”.
Tira esses olhos de mim.
Barulhos que emergem do nada. Silêncios que materializam sons. O quão lindo pode ser um projeto que abre mão de tantos instrumentos em prol do fundamental para seus versos? Eu não tive dúvidas da magnitude quando segui por sua doce estrada. E agora dá licença que preciso voltar ao chão.
Sim, ao chão.
E que falta me fazia sonhar.
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