Resenha: Rodrigo Campos
Rodrigo Campos é um observador. Se em seus dois álbuns anteriores o paulistano nos apresenta sua visão da zona leste de São Paulo (São Mateus Não É Um Lugar Assim Tão Longe, de 2009) e da Bahia (Bahia Fantástica, de 2012), o terceiro disco nos leva para em uma viagem guiada por entre referências do cinema japonês e da mitologia oriental.
Das 13 faixas que compõe o trabalho, “Katsumi” e “Toshiro Vingança” foram criadas ainda em 2012, quando Rodrigo lançou seu segundo álbum. Desde então, entre composições e colaborações em seus outros diversos projetos, Conversas Com Toshiro foi ganhando vida por meio dos personagens e das histórias contadas nas canções.
Dentro de cada bela melodia, que prende os ouvidos e a atenção, estão poesias inspiradas em ícones da cultura japonesa. Nomes como o do cineasta Takeshi Kitano, na faixa de abertura “Takeshi e Asayo”, do ator Toshiro Mifune, em “Toshiro Reverso” e “Toshiro Vingança” e a animação Viagem de Chihiro, de Hayao Miyasaki, são lembrados pelo artista. Porém, a visão extremamente pessoal sobre esses elementos acabam dificultando a identificação com os temas.
Excluindo qualquer referência geográfica e documental, Rodrigo Campos interpreta, reinterpreta e transforma fatos, pessoas e lugares de acordo com sua própria imaginação. Sendo assim, cabe ao ouvinte desvendar os mistérios e metáforas das composições ao adentrar o inconsciente criativo do artista. Exemplo disso é “Mar do Japão”, samba em que Rodrigo se imagina vivendo sob as águas do tsunami que inundou o Japão em 2011 em versos como “mar do Japão tem carro antigo/ mar do Japão tem talhadeira/ mar do Japão tem seu menino/ mar do Japão engole estrela”.
Instrumentalmente, o disco é impecável. Reunindo, além do próprio Rodrigo Campos, nomes como Curumin(bateria), Dustan Gallas (rhodes e hammond), Marcelo Cabral (baixo), Thiago França (sax/flauta) e as cantoras Juçara Marçal (voz) e Ná Ozzetti (voz), a banda apresenta ritmos essencialmente brasileiros em traje de gala, com ótimos arranjos vocais e intervenções de instrumentos de corda. Até mesmo “Velho Amarelo”, presente no celebrado Encarnado(2014), da parceira Juçara Marçal, ganhou uma nova e ótima interpretação.
Conversas com Toshiro foi um disco que exigiu tempo. Foram muitas idas e voltas ao disco até que fosse possível embarcar nessa viagem de amor, sexo, vida e morte entre oriente e ocidente. Porém, a cada audição, as narrativas vão se desenredando e os segredos desvendados são apenas um novo convite para esse universo de mistérios.
Faixas Preferidas: Dois Sozinhos, Chihiro, Velho Amarelo
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