Vitor Guima – O Estrangeiro (2019)

Vitor Guima abre as janelas do seu quarto em “O Estrangeiro”. Com uma guitarra que vaza colorido pelo vidro cinza “Do Lado de Fora”, o artista traz esse timbre agradável a la Leoni em sua estreia. Por aqui, ele não é nada invisível. “Por Aí”, um dedilhado que me faz querer cruzar a Ipiranga com a São João, andando sozinha enquanto busco meu encaixe no mundo.

O “Movimento” segue no folk das árvores não dançantes do cineasta e escritor, que mostra seus outros dotes artísticos nesta construção descritiva tão bem feita em suas letras e melodias. É fácil fechar os olhos e imaginar as cenas que ele traz à tona e fazem sentir saudade de uma lembrança que nem é nossa. Se o “Coração na Cabine” não te tocar – uma missão praticamente impossível com uma pegada O Terno – sugiro não ficar parado e, quem sabe, tomar “O Trem” para continuar esta viagem janela afora, onde poucos querem pagar o preço da passagem.

Afinal, somos todos “Tortos Assim”, na busca do melhor heterónimo de nós mesmos. E se os rebanhos de Caeiro não te convencem, dance a “Balada para Álvaro de Campos” e deixe seu corpo ser levado pelo romance conselheiro de amores e sonhos. Não sei se “Laís” também tem um quê de Lisboa, mas sei que tem muita coisa que a gente gostaria de sair dizendo por aí. Sei que, no fim, “A Lei do Desejo” é o que deixa o gostinho de quero mais e a vontade de dar replay em um disco inteirinho.