3 perguntas para Daya Moraes: o racismo, a arte e a força feminina no novo clipe “Campo Minado”


by Renata Luiz
A cantora e compositora Daya Moraes acaba de lançar o aguardado clipe de “Campo Minado”, a terceira faixa do Projeto XV, que celebra seus 15 anos de carreira. Com uma narrativa sensível e impactante, a canção aborda temas como racismo estrutural, o sentimento de não pertencimento e a luta dos corpos negros por visibilidade no Brasil — especialmente no contexto do sul do país, após a enchente de 2024.
Com direção de Lisiane Cohen e Carmem Fernandes, e a participação do rapper Seguidor F., o clipe foi filmado em Porto Alegre e Alvorada, com destaque simbólico para o Morro da Cruz, periferia marcada por resistência e exclusão histórica.
A letra é visceral: “Camiseta na cabeça quando criança / Pra fingir que era cabelo liso…” — Um verso que expõe as feridas da rejeição à identidade negra desde cedo, transformando dor em arte e denúncia.
Finalista em três categorias do Prêmio Profissionais da Música, Daya reafirma sua força como uma das vozes mais potentes da cena pop e R&B gaúcha — sempre com um olhar atento ao empoderamento feminino e à justiça social.
Convidei a artista para responder três perguntas sobre seu novo trabalho, o processo criativo por trás do clipe e sua visão sobre a presença e os desafios das mulheres negras na música e no audiovisual, confira:
“Campo Minado” é repleto de imagens pessoais e sociais muito fortes. Como foi o processo de transformar essas vivências em arte?
Campo Minado não deixa de ser um processo doloroso, onde consegui colocar algumas vivências em pauta. Nunca será fácil falar sobre isso, e nunca fica mais leve. Foi um desafio, e a coragem de expor tudo isso foi surgindo aos poucos, conforme a equipe que deu vida ao projeto foi se formando e se acolhendo durante nossas reuniões. Foi um momento de muito aprendizado, no qual discutimos como traduzir a letra em vídeo. O processo foi amadurecedor e repleto de fortalecimento. Afinal, um clipe feito por uma equipe de cinema tem um diferencial enorme, especialmente na forma como expõe os significados nas cenas.
A música fala sobre exclusão, identidade e invisibilidade. Que reações você espera provocar em quem assiste e se reconhece — ou se incomoda — com essa realidade?
A música mostra o quanto ainda precisamos lutar diariamente para existir. Ela traz duas perspectivas: a de um homem preto retinto e a de uma mulher negra de pele clara. Falamos de racismo estrutural, mas também abordamos o colorismo, e o quanto isso, em muitos momentos, nos coloca em um processo de não pertencimento. O clipe tem a premissa de tocar a todos, pretos e brancos, e provocar reflexões sobre o que está sendo visto. É sobre refletir sobre todos os significados que o vídeo transmite, e há muitas formas de enxergá-los. Por isso, sempre aconselho assistir mais de uma vez. O clipe Campo Minado nasceu dessa ideia de refletir sobre o meu lugar no mundo. Se as pessoas conseguirem pensar sobre isso enquanto assistem, e compreenderem que precisamos mudar muito além da superfície, já terei cumprido parte do meu propósito.
O clipe reúne três mulheres artistas na criação. Como você vê o papel das mulheres negras no audiovisual e na música brasileira hoje?
Um dos maiores orgulhos que tenho deste clipe é que 90% da equipe principal é formada por mulheres. Minha música sempre teve um foco muito forte nesse posicionamento, e eu ansiava pela chance de fazer isso acontecer. Finalmente, em Campo Minado, consegui. São mulheres incríveis liderando um clipe potente e cheio de nuances, que fala sobre um assunto necessário de uma forma tão poderosa quanto sutil.
As mulheres negras no audiovisual ainda são muito invisibilizadas, demorando para ganhar destaque, mesmo sendo grandes profissionais. O racismo estrutural é um dos maiores vilões desse processo, sem esquecer o machismo, que caminha lado a lado. Na música, estamos ganhando mais espaço. No hip-hop, nos últimos anos, vimos grandes nomes femininos surgindo, mas só nós sabemos a luta que isso exige. Infelizmente, o apoio dos homens no rap, muitas vezes, se limita ao discurso, mais do que à ação. Mas acredito que, nos unindo, sempre conseguiremos buscar nossa parcela de direito. Somos tão capazes quanto eles e estamos aqui para provar isso!
ASSISTA AGORA AO CLIPE E SINTA O PESO DA BATALHA:
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