A Oralidade Das Canções de Siba

A Oralidade Das Canções de Siba

As canções de Siba são, essencialmente, a valorização da arte pernambucana. Enaltecida em suas canções, a cidade de Nazaré da Mata – “fonte de inspiração desde o início da carreira, com a banda Mestre Ambrósio, criada em 1992, para discutir exclusão e desigualdade social”, segundo o Diário de Pernambuco.

Suas melodias características, onde acordes de maracatu e de repente misturam-se às guitarras do rock’n roll, são acompanhadas de composições que contam, através da oralidade presente nas músicas, histórias do povo pernambucano. O trecho da canção Mel Tamarindo, exemplifica:

quem dança rindo numa roda de ciranda,
se debruça na varanda para ver estrela caindo
quem fica ouvindo,
descortinam a janela,
sem trava, sem taramela,
com verso entrando e saindo


quem dança rindo
de ciranda e carrossel
e é como misturar mel
num suco de tamarindo
quem fica ouvindo
diz que o verso não se mancha
depois que sai se desmancha
porque já tem outro vindo

Quem participa sente-se parte, é incluído e quem apenas ouve, também aprende, mesmo que não através da prática, mas, sim através da história contada.

Ao longo de cinco discos, Siba introduz tradições, gastronomia, fauna, flora, festividades e rotina a pessoas de outros Estados brasileiros que não teriam contato com tais particularidades de outra forma que não ouvindo suas músicas ou vivenciando o dia a dia de Recife e perpetua a memória de uma época e de um povo.

Lançado em 2015, De Baile Solto é um ato de resistência à forte opressão em que o maracatu sofreu em 2014, quando teve seu horário de encerramento restringido. Frente a isso, os temas abordados no disco resgatam tradições, festas, fauna, consumismo, desigualdade social, entre outros.

Em Gavião, o ouvinte acompanha o voo do animal, compreende sua relação com a serra contrapondo-se à arrogância humana. “O gavião acordou de manhã cedo e quem rasteja o chão tem medo de ver gavião voar.”

As tradições estão presentes em Mel Tamarindo, em que valoriza as danças populares e tradicionais de rua. “Quem quer brincar forma roda mão com mão deixa uma marca no chão toda vez que o pé pisar.” Imergido no cotidiano pernambucano, Siba canta com propriedade sobre consumismo e desigualdade social em Marcha Macia e em Quem e Ninguém. É o observador participante, apontado por Ecléa Bosi, no livro Memória e Sociedade: lembranças de velhos: “Não basta a simpatia (sentimento fácil) pelo objeto de pesquisa, é preciso que nasça uma compreensão sedimentada no trabalho comum, na convivência, nas condições de vida muito semelhantes”.

Durante o show de seu projeto paralelo Azougue Vapor, houve uma espécie de rinha de repentistas, na qual Siba, João Limoeiro, cirandeiro de Carpina, e João Paulo, mestre de maracatu de baque solto de Nazaré da Mata, disputavam em improviso e contavam histórias de seu povo ao público do SESC Bom Retiro.

Duas canções do disco anterior de Siba, Avante, contam duas histórias que refletem o cotidiano do pernambucano. A Bagaceira, durante o carnaval e Brisa, durante as pescas do trabalhador.

Através das canções de Siba, é possível aprender sobre a cultura de um povo, sobre sua natureza e cotidiano. É através da oralidade de seu trabalho em que entramos em contato com diversos outras realidades, muito importantes para a cultura brasileira e que, não fossem apresentadas em forma artísticas, talvez jamais fossem descobertas por uma grande parcela dos seguidores do músico.

Share Button

Apaixonada por música. Não lhe dê asas, seus sonhos não têm limites!

Recommended Posts