A Urgente Poesia de Caio Prado
A urgente poesia de Caio Prado
Em tempos em que moral e bons costumes são no mínimo discutíveis e que esses tais valores estão cada vez mais ultrapassados, fica difícil confiar em classificações. Por isso, ganha destaque o não recomendado, porém super indicado disco de estreia de Caio Prado, cantor e compositor carioca. O álbum se chama “Variável eloquente”, mas é a canção “Não recomendado” – já velha conhecida dos saraus cariocas – que rouba a cena, inclusive no show.
E essa faixa fala muito sobre o trabalho de Caio. Apesar do claro viés político da canção, ele conta que não pretendia compor um hino contra o preconceito. “Eu fiz ‘Não recomendado’ como um ato de fazer música. Porque eu defendo a liberdade, gosto de escrever crônicas de superação, sobre o marginalizado e a força dele. As aquisições que essa música teve vieram depois”, explica o compositor.
“Variável eloquente”, na verdade, surgiu da vontade de fazer um disco atemporal, que pudesse atingir a todos. Pra isso, Caio escolheu dez composições das sessenta que tinha prontas. O resultado é um álbum acústico, inspirado em trabalhos como de Chico César e Cássia Eller. Produzido por Clemente Magalhães e Maycon Ananias, a forte e delicada poesia do jovem cariosa foi acompanhada por um quarteto de cordas. “Não vejo o disco como erudito. Eu sou um compositor popular e acho que a música popular brasileira tem essa capacidade de atingir todas as faixas etárias e classes sociais. É uma tentativa de união entre o universo popular e a erudição”, conta Caio.
Formado na Escola de música Villa Lobos, do Rio de Janeiro, Caio lembra que compôs a primeira canção aos 9 anos, para um trabalho de escola. O instrumento sempre foi a voz. Compõe cantarolando. “Meu processo criativo é muito solitário. Eu tenho muita dificuldade em compor em parceria. Eu componho pra mim”, admite.
Para Caio Prado, “Variável Eloquente” é um disco de reflexão, de pensamento. Ele conta que busca fugir da auto-ajuda na hora de compor, mas gosta da superação. No disco, procurou trazer canções com esse significado. “A música sempre foi e tem que ser um movimento político. A questão de reflexão é fundamental na minha música. Eu procuro dizer versos que tenham algum sentido pra alguém, que mexam com essa pessoa. A música está a serviço de um processo evolutivo”, sentencia o jovem compositor.
Em efervescência criativa, Caio já planeja lançar outro disco no ano que vem e com uma proposta completamente diferente. As músicas já estão escolhidas. “Eu quero um disco mais agressivo. E quero trabalhar com percussão, com a malemolência que não tem no primeiro disco, e de alguma maneira trazer também o eletrônico, que sou fascinado”, adianta.
Até lá, vale a pena devorar um pouco mais o disco de estreia do compositor carioca.
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