Arthur Nogueira Literalmente Brilha em Show de Estréia do Novo Disco.

Arthur Nogueira Literalmente Brilha em Show de Estréia do Novo Disco.

São Paulo No último domingo (23), ocorreu no teatro do SESC Belenzinho o show de lançamento de “Sem Medo Nem Esperança” (Joia Moderna), o novo disco do cantor e compositor Arthur Nogueira. Parceiro de composição do poeta Antonio Cícero, Arthur traz em sua música um lirismo literário muito próximo da poesia do seu parceiro e de nomes como Eucanaã Ferraz e do saudoso Wally Salomão (que tem seu DNA no CD, já que seu filho, Omar, é parceiro do jovem paraense na canção “Volta”), o que normalmente remete qualquer um ao velho formato voz, violão e acompanhamento suave.

Para o espanto de alguns, não era nada disso que esperava pelo público naquela noite.

Guitarra (Allen Alencar), bateria acústica e eletrônica (Arthur Kunz), baixo e samples (João Paulo Deogracias), percussão e bateria eletrônica (sim, mais uma – esta sob o comando de Xavier Francisco). Esse foi o line-up do show, capaz de deixar os mais puristas de cabelo em pé e dedo em riste. O resultado dessa escolha ousada foi uma sonoridade que revestiu a marcante voz de Arthur de modernidade e força quase hipnótica. Contando com a ajuda visual da iluminação criativa e cativante de Miló Martins e a execução precisa de cada instrumento e dos efeitos sonoros, a apresentação mostrou àqueles que estavam presentes a razão de muitos acreditarem que o futuro da nossa canção esteja naquilo que Kristoff Silva uma vez chamou de MPB (Música Pós-Björk).

Ao vivo, Arthur Nogueira e sua banda triplicam a força do disco, deixando-o mais visceral, mais potente. Ao vivo, ele também canta com o corpo, faz do palco a sua pista de dança particular e intimista. Ao vivo, sua voz brilha e conquista com facilidade por sua sobriedade e segurança.

A noite também contou com duas participações especiais, ambas de imenso significado afetivo. A primeira foi de Cida Moreira, que foi ovacionada sem mesuras assim que subiu ao palco. Após se sentar ao piano, dedilhou algumas notas e desenhou um vocalise sobre o arranjo de “Fawn” (Tom Waits), tão melodioso que fez a pele do repórter arrepiar enquanto a imagem de Antony Hegarty vinha involuntariamente à cabeça. E qual não foi a surpresa quando, logo na sequência, Arthur Nogueira começa a cantar “For Today I’m a Boy (Antony and The Johnsons), sendo acompanhado pela banda e por uma Cida Moreira deslumbrante e impecável em sua elegância natural. Depois, os dois ainda apresentaram “Preciso Cantar”, presente no EP de 2013 e que foi escrita para ela.

Quando chega a vez de Lira se apresentar, a expectativa também é grande, haja vista que “Sem Medo Nem Esperança” bebe bons goles dos dois discos solos do pernambucano de Arco Verde. Lira é conhecida por suas performances intensas e arrebatadoras. No entanto, seu desempenho em “Gratuito” foi tímida e morna, cabendo a Arthur a tarefa de tomar conta do palco. Tudo melhora quando, durante “Simbiose”, Lira assume o papel que foi de Antonio Cícero no disco, declamando o poema “Palavras Aladas”. Ali ele claramente estava em seu elemento natural, reluzindo, faiscando em sensibilidade. Foi uma pena o fato de que, mal começou a se apresentar aos olhos do público o verdadeiro Lirinha, o mesmo já teve que se retirar.

Quando o show acaba, fica claro que Arthur Nogueira parece não ter acertado em cheio apenas na escolha de repertório e da proposta para a nova fase da sua carreira, mas também na escolha dos companheiros de palco.

Share Button

Escritor, jornalista e editor. Responsável pela curadoria de conteúdo do Jardim Elétrico.