Resenha: Bixiga 70

Abram alas para o som.

Com o perdão dos supersticiosos, no dia 13 de maio de 2013, na Rua Treze de Maio, começou a ganhar vida o segundo trabalho do Bixiga 70.

Os motivos continuam os mesmos, ou quiçá tenham ficado ainda mais latentes: explorar a diversidade rítmica, desafiar os limites da música instrumental, cruzar o mundo.

Tudo isso sem sair da casa de número 70, no coração do Bixiga.

Em comparação com o primeiro disco, de 2011, este novo concílio está mais imponente. Pesado. O baixo e as tramas percussivas formam uma densa musculatura que sustenta as frases e os solos de metais e as presenças mais sensíveis das guitarras e do teclado.

Além do peso, o que também aumenta é a diversidade dos ingredientes. Se não aumenta, ao menos seus sabores ficam mais realçados. Deixando de lado o famigerado rótulo de afrobeat que acompanhou a crítica do primogênito, desta vez fica mais clara a polirritmia que a banda propõe: Ethio-jazz, terreiro, caribe, carimbó, psicodelia, beat. Tem a África que é um mundo.

Não bastasse o vanguardismo sonoro, o Bixiga 70 carrega a força de ser uma seleção de figurinhas carimbadas do novo cenário paulistano. Nesse banquete cada um traz seu prato: Décio 7 na bateria, Marcelo Dworecki no baixo, Cris Scabello na guitarra, Mauricio Fleury no teclado e guitarra, Rômulo Nardes e Gustaco Cecci na percussão, Cuca Ferreira no sax barítono, Daniel Nogueira no sax tenor, Douglas Antunes no trombone e Daniel Gralha no trompete.

Saltam aos ouvidos faixas como “Retirantes”, pano de fundo para o ritualismo dos nômades, “O Tigre” e sua dança, “Kriptonita” e sua virtuose jazzística, e o belíssimo arranjo de “Deixa a Gira Girá”. Sons plenos de poder que infundem e transcendem nossos corpos.

O Bixiga 70 veio para ser uma amálgama. E que perdure, para que possamos fazer mais viagens como essa, rumo a sons que não cabem nos mapas.