Resenha: Conversa Ribeira
OS SILÊNCIOS DA CONVERSA
“O prazer e a alegria, ai, ai…”.
Asas, por favor. Asas para acompanhar a beleza. Asas para conhecer o Brasil Profundo. Acho que não lembro de ter mergulhado num trabalho que remeta tanto a sonoridade de Minas quanto esse desde muito tempo. E, correndo o risco de ser um tanto ousado, eu diria que vi Beirut aqui, em algum lugar, sofisticando a síntese. Assim como vi Renato Teixeira e Gilberto Gil.
Há distância e saudade nessas canções. Encontros e despedidas. São canções que dizem mais ‘adeus’ que ‘volta’. E dói com uma sutileza absurda. Essa voz, essa viola, essa nostalgia boa, essa sensação de casa de vó no fim de tarde. Tem felicidade saindo do forno junto com alguns biscoitos. Tem abraço dentro da redinha quente. Tem cigarro de palha na boca do vô e terra nas mãos das crianças que não cansam.
Ao ouvir ‘Lembrança’, quase choro de tanta verdade. E vai…vai! Como se implorasse tua ida em favor da minha cura, no voo manso desses falsetes.
Cura? Onde há gente no mundo? Aqui se promove o encontro de corações sem medo do encanto, sem medo das delicadezas perdidas. Ondas de “Águas Memórias”. Estamos num lugar sem fumaça, sem pressa, sem o cinza do trânsito confuso. Estamos num lugar repleto de personagens. Heróis e bandidos do imaginário. Qual Chico Mulato, qual milhares de Franciscos que o mundo não chega a conhecer por puro capricho do universo.
Conversa Ribeira não abre portas. Produz efeitos bem mais devastadores. Ela transborda nossos rios, faz dobrar os nossos ventos, tira do peito a fragilidade da grama molhada, do cheiro de café, da poesia do sal que acaricia o rosto.
Canta “A lágrima derrama na terra meu lamento…” quando, há muito, já estamos a milhas do chão.
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