Cuide do Bonsai, Camará
Tudo que toca o tempo é efêmero. Tive a inspiração rápida depois de ouvir “Bonsai”. A sequência de notas foi passando e nem lembrei o que era fora do corpo. Com os olhos fechados, toque especial que potencializa canções, era sílaba atrás de sílaba, letra pronta ao pé do ouvido. Os rapazes, responsáveis por tudo isso, são Victor Cremasco e Raphael Amoroso. Juntos, formam Camará. O álbum Bonsai é lançado pela banda de dois cumprindo a missão de mais de dez.
Coincidentemente a faixa (Quarta-feira) foi escutada na última quarta, véspera do carnaval. Já anuncia um carnaval quase sem samba, mas com esperança de tudo mudar pra melhor, recuperar a relação desgastada. O disco tem leveza nas ideias e é certeiro quando harmoniza o samba discreto com a voz doce. Ouvindo “Maria Rosa”, penso que é o tipo de trabalho feito pra impressionar. Exibir para os amigos, como alta safra da música. Servir as canções com embrulho e laço, que é pra encantar.
“Vem ver” é um respiro contínuo, um convite ao acaso que bate na aorta. Assim como o restante do disco, essa música é furiosamente encaixada na mansidão dos costumes. Reitera a vontade de encontrar, de dizer aquelas coisas em voz alta, apenas cantar para alguém. O ‘amor maior’ foi feito pra bater, e é isso que o Camará consegue: fazer enxergar, reagir.
Do toque ‘suingado’ e dançante, “Gracias” se despede e se apresenta como a última faixa. Encerra o caminho aberto de coesão entre as faixas e surpresas dentro de cada música. Pois se é pra finalizar resta a efemeridade. O trabalho é encerrado sem que se perceba, tamanha a absorção do lado de cá. Talvez não se possa ter tudo, como horas a fio repetindo o disco, em um eterno replay ensaiado.
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