#Descubra o Brasil cultural que habita a Catalunha

#Descubra o Brasil cultural que habita a Catalunha
Foto: Anike Lamoso

A Catalunha – ao lado de Madrid – foi a região que teve mais contágios de coronavírus da Espanha. Não à toa, logo que declarada a pandemia, em março, o fechamento total da área foi instituído, com multa para quem estivesse na rua e que não fosse a caminho do mercado, hospital ou do trabalho – se esse fosse um dos considerados serviços essenciais, caso contrário, deveria ser executado de casa ou aplicada alguma das ações de emergência do governo.

Quem vive de cultura e eventos obviamente viu sua renda cair. Quem viu sua renda cair e não estava regulamentado enquanto artista, não pode recorrer ao auxílio governamental. Foi aí que Clara Nascimento, Juan Munhoz e Pedro Bastos resolveram reverter a situação, considerando a quantidade de brasileiros imigrantes que se dedicam à arte em Barcelona.

“Sou a Clara, tenho 34 anos e, desde os 17, estou nessa louca viagem chamada ARTE! Vivi experiências de pesquisa cheias de amor e trabalho: já dancei com a Cia Sansacroma, aprendi a arte dos bonecos com a Pia Fraus, cantei no musical “Os Boêmios de Adoniran” e tive a responsabilidade de levar arte aos mais longínquos cantinhos do Brasil, graças ao trabalho da Cia Metrópole de Teatro e do Grupo Komedi. Fora isso, estudei História e estive dez anos em salas de aula com projetos sociais muito incríveis e transformadores. Nos últimos dois anos e meio, resido em Barcelona e comecei a produzir projetos de teatro e música. Esse foi o caminho até a constituição da Associação AUÊ, que é a junção de todos esses desejos”, explica a presidente da Brasil AUÊ.

Hoje, a Associação tem 16 pessoas ativas e alguns simpatizantes. Eles são músicos, atores, produtores, jornalistas e todo tipo de função relacionada a arte e profissões criativas, como audiovisual. No fim, todos produzem arte brasileira ou estão ligados a ela de alguma maneira.

Conheça e inspire-se!

Mesmo fazendo pouco tempo, já rolaram coisas bem legais e de casa cheia. Conta um pouco dessas propostas pra galera.
Começamos com pé quente!
Logo que decidimos formar Associação, nos inscrevemos em um prêmio de economia cooperativa e ganhamos uma menção honrosa e um super suporte da Coopolis (um grande centro de atenção às cooperativas aqui na Catalunha)… E logo fomos chamados para ocupar um espaço cultural com programação variada – o resultado foi delicioso. Estamos nos conhecendo artisticamente e pudemos trocar com o público, que nos recebeu com o coração quentinho! É sempre bom voltar.

*Importante ressaltar que todas as apresentações foram realizadas a partir das fases de desconfinamento, que começaram a permitir pequenas aglomerações seguindo rigidamente as regras sanitárias.

O que a Catalunha oferece de suporte à classe artística?
A Catalunha é um mundo a ser explorado e a receptividade à arte brasileira é bastante grande. Existem muitos sindicatos e espaços de suporte e apoio ao artista. Mas, infelizmente, muitas vezes não dá cabo de responder nossas demandas. A ideia da Associação é justamente essa de encontrar esses espaços e esses apoios, para utilizá-los da melhor maneira possível.

Qual a importância de ajudar na regulamentação de artistas imigrantes na região?
Um dos grandes temas sociais atuais estão ligados à migração e às situações vulneráveis que ela implica. Diagnosticamos que a maior parte dos artistas brasileiros aqui na cidade trabalha se forma irregular e não pode acessar benefícios sociais. Muitos artistas estão em situação crítica pós-pandemia, porque não receberam nenhum tipo de apoio. Recebemos feedbacks bastante positivos quanto a essa luta, que apenas começa: vale a pena investigar e organizar a vida laboral dos nossos conterrâneos, porque se move uma roda econômica relevante aqui, enquanto outro golpe econômico poderia acabar com os artistas.

Uma notícia não-oficial circula divulgando uma diminuição alta de investimentos para a pasta de cultura no Brasil. Como você acha que os artistas que estão no país podem se organizar pelos seus direitos (tendo o Auê como inspiração)?
Desde os 17 anos estou ligada à cultura e ao serviço social. No meu histórico, vi grandes leis de incentivo serem criadas graças à junção de inúmeros grupos e coletivos. Além de começarmos a nos apropriar das redes sociais, também vejo indispensável que os movimentos voltem a se unir e, de maneira organizada, confrontar as decisões desse desgoverno que veio para sufocar a cultura.

Que projetos o Auê tem em vista?
A Brasil Auê quer se tornar uma cooperativa – para isso, precisamos de um histórico contundente e fazer nossos projetos girarem. Estamos nessa etapa: criação dos grupos de trabalho e ações criativas para ocupar, produzir e distribuir nossos vários projetos. Esperamos poder contar com cada vez mais artistas para nosso “cardápio” e também com parceiros, para fortalecer e dar um corpo sólido ao projeto.

Explica um pouco mais do prêmio que o Auê recebeu.
Como comentei, o prêmio Micaela Chalmeta foi nosso impulso inicial. Nos apresentamos despreparados, mas com desejo profundo em aprender, e recebemos de volta orientação e acolhimento. O projeto, que tem como pano de fundo a migração e como proposição o artista brasileiro, foi super elogiado e provocado. A intermitência profissional x a necessidade da sociedade em consumir arte foi a lição de casa que recebemos da Coopolis e estamos buscando essa resposta!

Outras informações que queira compartilhar.
Além das ações internas com os nossos artistas associados, já temos vários parceiros, a CircA e a L’occulta são algumas delas. Não se faz arte sozinho e estar ligado a outras associações fortalece não só o setor, como também o discurso.

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Carol Tavares é jornalista. Passou pela MTV, pela Bandeirantes e a hiperatividade levou seu caminho a cruzar felizmente com o Jardim Elétrico e criar a produtora Jazz House. Apaixonada por música, pelo amor, por Alberto Caeiro e por seu acampamento no Jalapão.