#Descubra o que é que a Noruega tem!

#Descubra o que é que a Noruega tem!
*Texto em parceria com Lucas Adon

A Noruega tem chuva, desenvolvimento, um outono cheio de cores, uma cantora chamada Aurora e uma cidade chamada Kristiansand. E, pasme, tem artista falando português e flertando com o samba! O nome dela é Sheila Simmenes e conheci ainda no Brasil, onde já fez um som com B-Negão e cantava em um grupo vencedor do programa Astros, do SBT.

Ela voltou para Noruega, tornou-se mãe e, entre estudos, produções, composições para projetos diversos e shows, lançou “Same Old Gold” – cheio de uma Bossa Nova refinada que trouxe uma temperatura diferente para o frio nórdico. “’Same Old Gold’ fala sobre saudade, paciência e a beleza de pequenos sacrifícios. É sobre como esperar por algo ou alguém pode ser dolorido e maravilhoso. A canção e o ritmo repetem isso uma e outra vez, assim como a própria vida”, conta. A faixa sucede “Si Ka Du Vil”, cheia de percussões servindo de base à letra na língua natal, e “Beautiful”, que mostra o barrigão grávido da cantora abrindo uma nova fase musical.

Foi ela também que nos apresentou a doce Vero Noah – cantora de voz suave que está lançando seu primeiro trabalho autoral, e nos abriu portas para ver de pertinho o talento da já conhecida do mundo pop Aurora Aksnes, ou apenas AURORA (sim, em Caps lock, gritando). Ela nasceu em 1996 e tem um estilo que pode ser descrito como eletropop folktrônico. Ou então como aluna da escola da professora Björk. E este Jardim Elétrico que vos fala foi convidado a ir ao show da cantora.

Com o primeiro EP de 2015 (“Running with the Wolf”) e o primeiro disco de estúdio em 2016 (“All My Demons Greeting Me as a Friend”), a artista trouxe o segundo disco de estúdio em junho de 2019, ou seja, pouco tempo antes do show. Ela estuda piano desde os 6 anos mas, no palco, mais canta e faz uma performance como que uma elfa pequena dentro de uma floresta encantada. Com uma voz de timbre marcante, usa e abusa dos backing vocals para manter a presença forte.

Em algum momento daquela noite, dois homens levantam as bandeiras da Palestina e gritam para AURORA não tocar em Israel. Ela tinha um show marcado. A cantora para a música no meio e, na hora, pergunta se os homens estão sendo agredidos. Visto que não, o show segue. O que foi dito depois por ela foi difícil de saber – norueguês é uma língua muito peculiar e não entendemos. Mas sabemos, pelo que vimos, que jogo de cintura não é exclusividade brasileira.

“Live Føyn Friis é outra cantora de jazz que tocou bastante pelo Brasil. Ela tem essa incrível personalidade refinada e um estilo de voz doce que eu absolutamente amo. Já GURLS é um trio de voz, baixo e sax que vale a pena conferir. Seus arranjos e maneira de tocar minimalistas são tão inspiradores. Aurora é grande agora, mas se você nunca ouiu sua música, deveria conferir o vídeo poderoso de ‘Queendom’”, completa.

Gostou da Sheila Simmenes? Então, confere mais da ideia que a gente trocou com ela.

O que as pessoas podem esperar de você no futuro?
Estou me organizando para lançar mais música e tocar em shows intimistas o quanto eu puder. O que for bom para ambos – eu e o público. Na Noruega, nós estamos voltando a ter shows aos poucos e também encontrando as pessoas novamente. Tudo com muito cuidado. Nós sabemos que essa pandemia não foi embora totalmente. Eu já estou pronta para trabalhar em novas faixas para um segundo disco e colaborar com pessoas e letristas em todo o mundo.

Sobre o novo disco, você pode nos falar um pouco sobre como foi produção e processo criativo?
Meu disco que está chegando deve ser lançado no começo de 2021, mas devo lançar alguns outros singles este ano. O album tem uma longa e amável história. Nós começamos a trabalhar nele em 2015, no Rio de Janeiro, e gravamos a primeira faixa no Master Studio 112 em Niterói, com alguns músicos noruegueses e o lendário Robertinho Silva. Então, finalizamos o processo de gravação em 2018, na Noruega, no Kongshavn Studio, onde convidei alguns dos meus músicos favoritos, incluindo o compositor e amigo brasileiro Peter Mesquita. Meu produtor, Bjørn Ole Rasch, criou o clima perfeito para as gravações e também uma série de maravilhosos sintetizadores analógicos. Este álbum é 100% analógico. Tudo que você ouve é natural, orgânico e fluido.

O quão intenso pode ser produzir e criar enquanto você está vivendo tantas novas experiências ao se tornar mãe?
Foi uma experiênica incrível estar em estúdio gravando enquanto eu estavagrávida – e entãotrabalhar na mix e master durante o puerpério. Eu amo isso de minha filha chegar ao mundo já rodeada de música. Tornar-me mãe realmente me transformou, além da minha relação com a música e como eu existo no mundo.

Que tipo de coisas esta experiência trouxe para sua vida?
Eu vejo mais amor no mundo. Mas tambem mais dor. Eu vejo tudo com mais profundidade.Eu estou incrivelmente e humildamente impressionada sobre como é trazer uma nova vida ao mundo. Isso tem mudado também como eu me sinto em relacão a outras pessoas. A maternidade me faz abraçar e cuidar um pouco mais de todo mundo.

A música brasileira é tão natural para você. Pode nos contar sobre os elementos brasileiros nas suas canções?
Eu sou apaixonada por música brasileira desde que vivi perto de São Paulo. Tem algo sobre os ritmos e melodias quente e confortáveis que me fazem sentir como se estivesse com o sol na pele. Ou como amor. Eu gusto de trabalhar com músicos que possam trazer este calor para minha música e eu tive a sorte de encontrar alguns poucos que fazem exatamente isso. Pode ser um toque de Bossa, Samba ou Ijexá, ritmo do norte do Brasil. O estilo de vocal nórdico e melodias misturam-se realmente bem com o jazz brasileiro e musicalmente isso é uma intersecção.

Compartilhe conosco o que esse álbum significa para você.
Este álbum é um salto de fé. É o meu primeiro solo e, agora, como uma mulher crescida. Demandou-me tempo chegar onde estou – musicalmente e pessoalmente. O que posso agora é esperar que as canções encontrem seu caminho dentro de qualquer alma que possa tirar um pouco de proveito delas. Elas já não pertencem a mim, mas a qualquer um por aí que possa ouvi-las e encontrar nelas conforto, calor, uma dança ou um beijo.

Como é ser uma produtora e cantora independente, mãe, mulher, etc ao mesmo tempo? Que tipos de insights você pode compartilhar com novos artistas que fazem tantas coisas ao mesmo tempo, assim como você?
Mesmo quando você faz muitas coisas, certifique-se de fazer um de cada vez e concentre-se totalmente nisso. O gerenciamento do tempo é fundamental – e isso também inclui garantir que você tenha tempo para descansar, recarregar as baterias e fazer o que lhe traz alegria. Não podemos ser criativos se não vivermos nossas vidas. Não podemos dar amor se não amarmos a nós mesmos. É importante que nos respeitemos e reguemos a nós mesmos.

Sobre álbuns antigos e trabalhos… Que lições você poderia tirar deles até agora?
Levei muito tempo para reconhecer e aceitar quem sou como artista. Amo tantos estilos e tenho tantas ideias que, às vezes, posso me afogar nelas, em mim mesma e perder o foco. Agora, sei melhor executar minhas ideias plenamente e confio mais em mim. Antes, minha visão seria diluída porque eu deixei outras pessoas tomarem decisões por mim e por minhas músicas. Agora, eu tenho mais controle e sei como me fazer ser ouvida e como comunicar o que minha própria música deve soar. Se eu puder dar algum conselho, seria para você se conhecer e confiar em si mesmo. Leva tempo e está tudo bem.

Outros insights que você gostaria de compartilhar conosco…
Nos últimos anos trabalhando neste álbum e me tornando mãe, percebi que o maior presente que posso dar para minha filha é viver uma vida boa. Para cuidar de mim e dos meus sonhos, para que ela aprenda a fazer o mesmo. Para crescer e se desenvolver constantemente, para que ela possa aprender que não há problema em cometer erros, mudar de ideia e tentar novamente. Me amar plenamente, para que ela faça o mesmo. E isso é verdade não apenas para nossas filhas e filhos, mas para todos os humanos. Por isso, não me sinto mais culpada por descansar, por comer bem e fazer o que amo. Minha filha precisa de uma mãe bem descansada, alimentada e feliz. E, assim, posso encontrar a todos que encontro ao longo do dia com um pouco mais de bondade, compaixão e graça. E todos nós precisamos de um pouco mais disso.

Confira também o EP “Wake Up For Love”, com participações como Lucas Silveira e Kamau:

 

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Carol Tavares é jornalista. Passou pela MTV, pela Bandeirantes e a hiperatividade levou seu caminho a cruzar felizmente com o Jardim Elétrico e criar a produtora Jazz House. Apaixonada por música, pelo amor, por Alberto Caeiro e por seu acampamento no Jalapão.