Elza Soares – Planeta Fome (2019)
Elza Soares. Dispensa grandes explicações. Lembro de, no começo dos anos 2000, ter feito parte da plateia do Altas Horas onde ela deu entrevista. Na época, não tinha muita ideia da força desta mulher que aprendeu a afinar o grito enquanto carregava baldes na cabeça. Em “Planeta Fome”, ela traz regravações e inéditas, dando espaço a novos artistas e com uma capa desenhada por Laerte. O álbum começa com uma “Libertação”. Ela não vai sucumbir, ao lado de Virgínia Rodrigues e BayanaSystem. E tem também BNegão e Pedro Loureiro agregando ao disco.
Uma melodia doída a capella em “Menino”, os “Brasis” que machucam e afagam entre o samba e a guitarra. No fim das contas, tem muito “Blá Blá Blá” no “Comportamento Geral” de uma população que exalta deuses hipotéticos e não escuta as vozes do próprio tempo. Elza é atemporal. É a mulher negra e pobre que sofreu todas as violências de uma terra que a ama e a maltrata. Elza é amostra de todas as intersecções de uma sociedade perdida no próprio egocentrismo. Elza mostra. “Você deve rezar pelo bem do patrão e esquecer que está desempregado.”
Tem “Tradição”, tem “Lirio Rosa”. Mas “Não Tá Mais de Graça”. Não tem medo de falar também. A cantora já viu e viveu muita coisa no “País do Sonho” e não perde a esperança no seu grito de Brasil que sai rasgado da garganta no ritmo da Copa. Essa Copa que a gente tem perdido, mas seguimos na busca da “Pequena Memória de um Tempo sem Memória”. Porque, afinal, a vida é bonita e é bonita. “São vidas que alimentam nosso fogo da esperança”. Se “Virei o Jogo”, não sei. Um disco “Não Recomendado” para quem pratica a passividade.
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