Entrevista: E A Terra Nunca me Pareceu Tão Distante
by Renata Luiz
Com um nome apaixonante a banda “E a terra nunca me pareceu tão distante” toca a alma.
Formada em 2013, já lançaram dois EPs e alguns singles com composições instrumentais, as mais bonitas melodias de se ouvir. Com base no estilo post-rock, Lucas Theodoro, Luden Viana, Luccas Villela e Rafael Jonke, vão fazer você desconectar do mundo já no primeiro acorde.
Em entrevista para o Jardim Elétrico, eles falam sobre a formação da banda, projetos para o futuro e o cenário atual da música independente.
EATNMPTD é uma pausa desse mundo em transe.
Como foi o começo da banda? Quem teve a ideia inicial?
Eu (Rafael) e o Luden sempre tocamos juntos, assim como o Lucas e o Marcelo, desde molequinhos. Um projeto anterior nosso (meu e do Luden) havia acabado e, como sempre tivemos essa necessidade de tocar, de estar em atividade, resolvemos que, passado algum tempo, era hora de começar algo novo. Houve algumas mudanças de formação, mas sempre comigo, Luden e Lucas. As trocas, na verdade, sempre foram dos baixistas. Nos firmamos com o Marcelo e ele gravou conosco a Demo, os EPs e os Singles. E após a saída dele veio o Luccas, com quem estamos tocando desde o começo do ano e compondo as novas músicas.
Como vocês se aproximaram da música instrumental?
Acho que esse é um lance muito pessoal de cada um. Eu tive minha fase de imersão em música instrumental e hoje não ouço tanto quanto antes. Mas acredito que falo por todos quando digo que é desse jeito que gostamos de tocar. Da liberdade de criação e de poder nos expressar mais livremente.
De onde surgiu o nome “E a terra nunca me pareceu tão distante”?
O nome foi ideia do Luden, logo no começo da banda, para um suposto EP que lançaríamos. Nós pensamos em várias possibilidades para nomear a banda, mas esse acabou parecendo mais correto para o que fazemos e o que sentimos. E hoje gostamos muito dele!
Como foi a produção do EP “Vazio”? E a experiência com financiamento coletivo?
Foi uma experiência um pouco mais densa que o primeiro EP. Na época de gravar as musicas já tínhamos passado quase dois anos tocando juntos, viajando e aumentando a convivência de uma maneira geral. Muitas melodias do EP homônimo de 2013 eram “sobras” de outros projetos nossos ou idéias antigas de músicas, o “Vazio” foi um processo que começou do zero e acabamos escrevendo e dando direções pras faixas muito mais em conjunto (ao invés de alguém introduzir uma idéia de musica mais fechada no processo de composição). O próprio nome veio um pouco da idéia de que tínhamos pela primeira vez um espaço em branco para preencher (ou representar).
O financiamento coletivo influenciou bastante a produção do EP. A começar pelo básico de que não teríamos dinheiro para gravar as músicas se não fosse a colaboração das pessoas, hahaha. Mas na época veio como uma surpresa incrível porque, pela primeira vez, tínhamos uma idéia palpável de quantas pessoas nos acompanhavam e estavam dispostas a investir em um disco qual elas sequer tinham ouvido antes.
Claro que isso acaba gerando uma espécie de responsabilidade inconsciente. Afinal, além de saber o tanto de pessoas que estavam esperando por esse lançamento, eram pessoas que tinham investido o seu dinheiro nessa produção. Isso nunca chegou a ser conversado entre nós ou algo do tipo, mas no fundo acho que cada um carregava um pouco de peso de saber que aquelas músicas seriam ouvidas por pessoas que já tinham uma base de comparação com musicas que havíamos lançado antes. Os dois EPs tem suas proximidades, mas arriscamos em vários sentidos nessas músicas, então havia uma ansiedade para entender como as pessoas reagiriam.
Mas somos eternamente gratos a todo mundo que ajudou nesse projeto e, com certeza, é um formato de captação de recursos que queremos repetir.
Ainda sobre o EP “Vazio”, as músicas são interligadas? Eu sinto isso quando escuto.
Nos nossos dois EPs as músicas são interligadas de alguma forma. A gente sempre tenta pensar nos álbuns como uma unidade pra ser ouvida do início até o fim como uma obra só. Seja por emenda de faixas ou repetição de temas, nos preocupamos muito como o todo se liga.
Até por isso que deixamos de fora uma musica de cada EP e lançamos como singles. Eram musicas que acreditávamos que funcionavam muito bem sozinhas, mas não pertenciam ao conjunto do que estávamos tentando criar.
Na composição como funciona? Todo mundo compõem?
Geralmente trabalhamos em linhas de guitarras criadas pelo Lucas e pelo Luden. Partindo disso, vamos construindo as músicas tocando, fazendo reuniões, conversando muito, apresentando novas ideias e etc.
Como vocês avaliam o cenário independente hoje?
Essa é uma pergunta que merece uma tese de mestrado, hahaha. Tem muita coisa boa acontecendo em vários lugares do país. Muita banda boa e muita gente legal fazendo sua parte nas suas cidades. Mas é complexo. Infelizmente ainda existem muitas casas de shows e pessoas produzindo shows que não se preocupam em dar o mínimo de estrutura e apoio para as bandas que se dispõe a tocar. Muitas vezes te colocam na posição de estar fazendo um favor de abrir a casa para você tocar, sabe? A gente já ficou um tempo sem tocar simplesmente por não encontrar pessoas e lugares dispostos a organizar um show que seja honesto com a banda ou com o público.
No outro lado, tem muitos lugares de show extremamente competentes, honestos e importantes para o cenário independente que estão passando por tempos difíceis. É o caso do 92 Graus em Curitiba e da Áudio Rebel no Rio de Janeiro. É difícil mapear exatamente o que acontece, mas dói bastante ver lugares tão ótimos como esses passando por uma fase ruim (sendo que sempre foram lugares que ajudaram bandas e construíram uma cena local nas suas respectivas cidades.
Enquanto isso tem muito show gringo extremamente caro lotando casas de shows que sequer abrem as portas pra que bandas menores possam mostrar seu show.
É difícil. São muitos fatores. Mas a música sempre encontra seu jeito de perdurar. A gente acredita bastante nisso e na união das pessoas.
Alguém já teve outro projeto musical? Quais?
Luden e Rafael tiveram a Go-Tango, Lucas e Marcelo a Doppelgangers!, além dos projetos solo do Lucas e do Luden, que também fez parte da Petrichor. Rafael integra também o Bloco 77 – Os Originais do Punk e o Luccas tocava na Jennifer Lo-Fi, toca no Quarto Negro e Lisabi.
Como está sendo a receptividade nos shows?
Os shows têm sido incríveis. É o momento onde tudo faz sentido para nós. O momento onde podemos apresentar as músicas de uma forma mais crua e o mais sincera possível para as pessoas. Além de estar em contato com quem acompanha a banda ou até mesmo nos conhece assistindo o show. Pra gente tocar é o momento de sentir e mostrar como nos sentimos, da forma mais sincera possível.
A banda já tocou fora de São Paulo? Tem previsão de tour pelo resto do país?
Tocamos sempre em Campinas, Barão Geraldo, que é um lugar querido demais por nós. Já fizemos alguns shows pelo interior de São Paulo e no Rio de Janeiro também. Acabamos de fechar um show no final do ano em Belo Horizonte e estamos correndo atrás de Curitiba e Goiânia. Não temos previsões muito específicas, mas estamos mapeando diversos estados nos quais queremos tocar. Temos a intenção de tocar no maior número de lugares possível, porque é disso que gostamos.
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