ENTREVISTA: A Outra Banda da Lua conversa com Jardim Elétrico!

ENTREVISTA: A Outra Banda da Lua conversa com Jardim Elétrico!

Todo dia descubro mais revelações da música brasileira, artistas com trabalhos incríveis, e hoje trouxemos a banda mineira A Outra Banda da Lua. Formada por Marina Sena (também do Rosa Neon), Matheus Bragança (baixo e voz), Edson Lima (violão, guitarra e backing vocal), Mateus Sizílio (bateria), e André Oliva (guitarra e percussão), a banda se define como “rock rural afro psicodélico”, explorando uma sonoridade na cena mineira dos anos 70.

Foram dois anos de gravação até o lançamento do disco, um presente com 9 faixas autorais e uma versão para o clássico “Desentoado” (Tino Gomes/Charles Boavista), um trabalho de estúdio perfeito.

Em meio tantas novidades, conversamos com o quinteto, e se você ainda não conhece, vem ver a entrevista na integra:

Conta um pouco da história da banda: como surgiu? Quais as influências?

Edssada: A Outra Banda da Lua surgiu em dezembro de 2015. Recebi uma ligação do Mateus Sizilio, velho parceiro do Baru Sonoro (grupo que foi o elo fundamental para tudo que surgiu), que me convidou para iniciar um novo trabalho musical juntamente com ele e com Marina Sena, já que o grupo estava dando uma pausa por tempo indeterminado. Lembro que aceitei o convite e meu primeiro encontro com Marina se deu no apartamento dela, lá no centro da cidade, e a gente já foi tocar. Foi assim mesmo na tora! Com pouco tempo, incorporamos Victor Manga para fazer flauta transversal, teclado, coro e algumas cordas, mas ainda sentíamos falta de uma segurança maior na cozinha. Um baixo criativo e firme. Nesse tempo, sugeri a inclusão de um cara que eu tinha visto tocar algumas vezes e cismei que ele tinha a ver com a gente. A galera topou e fiz o convite para o Matheus Bragança, que pediu uns dias de resposta, mas aceitou. Com a entrada de Bragança, iniciamos uma fase de maior maturidade. Passamos a desenvolver mais a autoafirmação das nossas composições, da identidade e da firmeza do som. Com o tempo, Manga teve que sair e deixou um espaço grande vago. Numa dessas de achar uma solução para a nova realidade que vivíamos, encontramos André Oliva, um cara novo, multi instrumentista e com uma alma generosa. Daí para frente, o tempero do nosso som ficou mais caseiro e mais gostoso. O resto é história!

Matheus Bragança: As influências da A Outra Banda Da Lua são inúmeras e é difícil até de listar, mas vamos lá. É aquilo tudo que está no nosso entorno e que de alguma forma nós respiramos hoje. Tem a música regional, das serestas, dos tambores do congado e do universo do cancioneiro local (como Grupo Raízes e Grupo Agreste). Mas tem também as variadas expressões da música brasileira como o movimento tropicalista, o Clube Da Esquina, a nova vanguarda paulista, o manguebeat… Passamos também pelo rock inglês, pelo universo experimental da world music e flertamos ao mesmo tempo com lances mais pop também.

Como foi todo o processo de produção e gravação desse disco?

Matheus Bragança: De certa forma, o disco foi gestado desde o início da A Outra Banda Da Lua. São 4 anos de banda e, desde o começo, já tínhamos ideia de que o nosso foco seria o autoral. Desde essa época, já trabalhávamos algumas ideias que foram aproveitadas no disco. Sendo assim, a produção e gravação do disco acompanhou o nosso crescimento como banda, onde a pré-produção desse trabalho foi feita nos palcos, as músicas e seus arranjos foram ganhando formas e essência ali no “ao vivo”. Mas, falando diretamente do processo do disco, ele foi gravado durante pouco mais de dois anos (entre 2017 e 2019) em Montes Claros e em Belo Horizonte. Funcionou dentro da realidade que uma banda autoral do interior das “Geraes” enfrenta, resultando num período de gravação extenso. Isso implica algumas questões, como a mudança da concepção musical, seja sobre um arranjo ou sobre a própria música. Às vezes, é um desafio você ouvir algo que gravou há 2 anos atrás. As ideias mudam. Nosso ouvido musical está em mudança constante. Então, foi um processo muito de aceitação, de que o disco de fato representa esse recorte de tempo como um todo. O tempo de maturação do álbum acompanhou o processo da banda em si.

Conta pra gente a história da música “Sangue no Olho”?

Marina Sena: Sangue no Olho foi composta na época em que Dilma sofreu o impeachment, através de um golpe de estado que teve início com a inconformação do candidato Aécio por não ter vencido as eleições e com o apoio de toda a direita, chefiados por Sérgio Moro. Quando Dilma sai, entra na presidência o seu vice Michel Temer, que representa tudo que há de pior tanto esteticamente quanto na prática na política brasileira, um velho rico branco e colonizador. Essa música foi feita como um grito pra dizer que ‘aqui não violão!’.

Vocês lançaram o clipe de “Lua” ano passado, como foi a escolha da musica? E qual é a história do clipe?

Marina Sena: É uma canção bastante importante pra mim e pra banda. “Lua” foi a primeira música que eu compus depois que descobri e entendi a beleza de ser o que eu sou. Foi o momento do firmamento. A Outra Banda da Lua apareceu na minha vida como um lugar onde pude experimentar todas as coisas que eu nunca tive oportunidade, com relação a personalidade, estética, etc. Eu pude pirar de verdade. Me mostrou o que era possível e que todas as coisas que eu sempre sonhei eram possíveis. Foi uma música que compus especialmente pra banda, demonstrando o que esse momento representava pra mim, enquanto mulher, mulher norte mineira, mulher de Taiobeiras (MG), que não tinha acesso a essa perspectiva tão ampla sobre viver da música, da arte, estar dentro disso de verdade. “Lua” é sobre o meu amor pela banda mesmo, “nem sei se vou dormir agora que eu descobri o amor” eu realmente estava descobrindo. A Outra Banda da Lua me mostrou o amor e Lua é como se fosse uma cartinha de amor pra banda”.

O clipe foi planejado de uma forma muito orgânica, a primeira locação que gravamos foi numa praia em Arraial D’ajuda, que por coincidência eu e Vítor estávamos lá juntos na mesma semana em 2017, aproveitamos pra fazer umas cenas no mar pra entender o que seria o clipe ainda. As imagens ficaram guardadas até que decidimos terminar o clipe pra ser o primeiro single do processo de lançamento do disco. Escolhemos nesse segundo momento paisagens típicas do sertão de Minas Gerais, pra frisar bastante a ideia da música que é a de uma mulher loba/onça, descobrindo o amor próprio, e sendo essa mulher eu, o ideal seria realmente a paisagem que me fez estar completamente presente no clipe. Num outro momento colocamos cenas no estúdio, onde eu estava com um microfone e mais com cara de Diva, pra dar a entender que a mesma Marina diva no palco é a Marina que veio do mato, do sertão, cabocla e que uma não anula a outra, muito pelo contrário, uma fortalece a outra.

 Falando em clipes, vocês já têm uma previsão de um novo?

Matheus Bragança: Infelizmente não, tínhamos já o roteiro do clipe de “Sangue No Olho” em mãos e estávamos ansiosos para fazê-lo, mas devido pandemia tornou se inviável. Vamos aguardar esse momento delicado passar, tendo previsões mais certeiras de quando isso vai se acalmar com certeza iremos lançar novos clipes.

Que tipo de mensagem a banda quer transmitir com sua arte?

Matheus Bragança: São variadas as mensagens que trazemos no nosso trabalho, mas de acredito que nós transmitimos na essência muito do norte de minas, trazendo um pouco da identidade norte mineira e catrumana, atentando um pouco para o que se passa e a riqueza cultural que essa região carrega. Mas logicamente questões universais também estão presentes nesse “grito norte mineiro”, que vão desde a questionamentos atuais, como o comodismo diante de tudo que se passa politicamente no país, a busca por uma vida mais ligada a natureza e fora de grandes centros, e até reflexões variadas sobre a vida, sobre o amor e sobre o mundo de maneira geral.

Como estão os planos para mundo conhecer? (trabalhos, planos, projetos) quando essa pandemia acaba, claro!

Matheus Bragança: Estamos divulgando nosso álbum das formas que hoje é possível, através das mídias, do “teti a teti” virtual e das ferramentas que a tecnologia hoje nos proporciona para que a gente consiga reverberar esse trabalho pelo Brasilzão. No momento ainda está tudo um pouco nebuloso sobre quando teremos uma situação menos delicada em relação a crise de saúde para dar uma previsão melhor, mas a gente espera de verdade conseguir o mais breve possível circular com esse show pelo pais levando um pouco de calor e alento pra todos.

Falando sobre próximos passos a gente ainda vai trazer algumas surpresas durante esse ano que ainda é cedo para falar. Mas certamente teremos novos lançamentos e muita coisa boa vindo por aí.

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De São Paulo, apaixonada por cultura, arte e comportamento humano. Movida a música.