ENTREVISTA: Pietá entre pedras e sossego

ENTREVISTA: Pietá entre pedras e sossego

Libertar a pedra da sua pedridade! Um mote, um norte, uma forte expressão da cultura brasileira – é Pietá. Musicalidade de pertencimento do indivíduo e seu meio. Depois de três anos, eles dão uma nova entrevista para nós, contando dos processos que estão passando e os planos de expandir a carreira.

Fortalecer a cultura brasileira em quem a faz com domínio e intensidade. É o que nos conta o encontro dos três músicos – Frederico Demarca, Rafael Lorga e Juliana Linhares – que responderam algumas perguntas para O Jardim Elétrico:

Quem é Pietá por Pietá?
É cada pessoa que canta, que participa, que trabalha pra nossa música ser ouvida.

Que tipo de músicos vocês são quando ninguém está olhando?
Somos gente curiosa. Passeamos por diversos assuntos, tocamos em roda, cantamos nos corredores, nas cozinhas, nos chuveiros. E também não tocamos, conversamos. Ah! Produzimos! (risos). Ficamos horas no trabalho burocrático que ninguém gosta muito de ficar olhando.

O que vocês querem partilhar com o mundo?
Que o ser humano é um criador. Que a cultura faz parte de qualquer sociedade e que precisamos nos alimentar de arte para sair de uma condição de dureza mental. Abrir espaços dentro de nós pra que possamos resistir com alegria. “É preciso libertar a pedra de sua pedridade”, disse um poeta. Queremos que a nossa música, a poesia de nossas letras e a força de nossas vozes possam acordar e sacudir sonhos esquecidos e corações tristonhos.

Em 2016, vocês deram uma entrevista pra gente. Havia três anos de banda e lançavam um primeiro disco. Desbravaram SP desde então? O Brasil?
Olha, nós moramos em SP fazendo um trabalho de teatro, então desbravamos a cidade de algumas formas. Mas pra tocar mesmo só fomos uma vez. Estamos voltando agora em agosto com o show novo! Já pelo Brasil a coisa foi mais animada! Tocamos em Recife, Caruaru, Fortaleza, Salvador, Natal, São Luís, Cariri, Curitiba, Florianópolis, muito no Rio e estamos nos programando pra ir a lugares onde ainda não fomos.

Vocês se consideram hoje um sucesso no quesito viver de música?
Dificil, né? Pietá ainda não paga nossas contas e, por isso, precisamos trabalhar com algumas coisas em paralelo. Mas isso também depende do ideal de sucesso de cada um. Conseguir realizar um trabalho artístico condizente com o que você acredita em vida, sem dissociar arte de política e estar a serviço de possíveis transformações humanas é ter sucesso. Isso também dá vida. Então, podemos entender que vivemos da nossa música sim, porque ela nos alimenta, mas desejamos fazer a banda crescer, entrar nos circuitos pra que possamos tocar mais e sobreviver melhor financeiramente.

Vocês sempre demonstraram um estudo avançado dos instrumentos e mesmo assim dá pra notar evolução musical forte. Como funciona essa rotina com a música na questão estudos, influências e etc?
Estamos sempre estudando, juntos e individualmente. Ouvindo e discutindo música, compartilhando desejos sobre ela. Participamos de alguns projetos em paralelo ao Pietá que também agregam novos saberes, experiências e influências. Pro disco novo buscamos fazer alguns ensaios mais abertos, em que tocamos e improvisamos. Surgiram coisas curiosas, risos. Foi um processo longo, experimentamos as coisas com calma. E fomos inserindo novos instrumentos, pads, pedais, o que exigiu um estudo específico pra cada um. Tivemos que adaptar nossos ouvidos a uma nova sonoridade, acompanhada pelos synths e guitarras de Ivo Senra e Elisio Freitas. Foi uma jornada de ensaios e show experimentais em que nos permitimos arriscar.

O teatro faz a música mais expressiva? 
O teatro dá ao corpo um estado de presença especial. Isso atravessa o momento em que estamos fazendo música. O interesse pela presença e pela troca faz a música chegar mais perto das pessoas. O estudo de teatralidade intensifica o corpo.

Consideram ter alcançado esta expressão do ao vivo no disco? 
Desta vez, a gente desejava ter um disco mais próximo do ao vivo, mais quente, mais enérgico. Buscamos isso junto ao Tostoi e acreditamos ter chegado mais perto, sim. Mas a experiência do ao vivo é sempre diferente e, ao longo do tempo, é natural que a música se modifique. Temos a impressão de que o show vai ser ainda mais vibrante que o disco, uma coisa vai alimentando a outra. Com o passar do tempo, a banda amadurece e o disco vira o registro de um momento especial.

Pensar um disco é pensar uma peça teatral?
O processo é bem diferente, mas tentamos trazer pra nossa produção de música e arte um pouco das vivências que o teatro utiliza. Reconfigurando hierarquias, criando coletivamente, abrindo espaços de discussão e troca. E também com o pensamento da dramaturgia dentro das canções, na sonoridade, na sequência, nas camadas que as participações agregam.

Contem um pouquinho das participações do álbum novo, como aconteceram e o que acham dos resultados.
É um orgulho danado ter essa galera no disco. Todas as participações são de parceiros que já haviam trocado com a banda anteriormente. Khrystal e Ilessi são amigas antigas. Lívia é uma que se aproximou a menos tempo mas que também já participou do nosso show. Josyara é uma paixão que conhecemos em Salvador e desde então estivemos juntes algumas vezes. Caio é amigo de ouro que faz parte dos nossos dias cariocas. O coro é formado por amigos muito próximos, alguns do teatro, alguns compositores, só família. A medida que fomos levantando as canções e as ideias pro disco, os nomes deles foram vindo naturalmente, por serem pessoas que realmente fazem parte das nossas influências musicais. Todos toparam, uhu!, e o resultado é esse que se pode ouvir – pra nós, um grande abraço.

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Adon, paulistano, músico, psicólogo, educador e colador de tirinhas de jornal, discute temas como o comportamento contemporâneo, com algumas ideias utópicas e outras distópicas. Acredita ser quente mesmo usar o computador como uma espécie de exocórtex e no futuro a decoreba será extinta, já que teremos todas as informações à mão, ou no olho, como quiser. E isso sim é revolução, evolução, enfim..."