Entrevista: Thamires Tannous e as muitas mulheres que co-habitam

Entrevista: Thamires Tannous e as muitas mulheres que co-habitam

Thamires Tannous ouvia rock quando era adolescente – faz uma Alanis Morrissette como ninguém. E também um Almir Sater. E também (complete com o nome que quiser). Não à toa, o disco “Canto para Aldebarã”, de 2014, contou com a produção incrível de Dante Ozzetti e com o apoio de artistas significativos para a música brasileira, como Estrela Leminski e Ricardo Herz.

Depois, a cantora sul mato-grossense chegou a lançar o single “Desaviso”, com uma captação delicada e trazendo para frente da tela uma Thamires mais leve e já com uma série de outras referências, quebrando um pouco com a linha árabe do primeiro trabalho. Ela passou ainda por um projeto paralelo em forma de show apenas com músicas carregadas de raízes do Brasil.

Eis que tudo isso está prestes a culminar em um novo álbum e ela contou para gente sobre os processos que trouxeram sua estrada até aqui.

Quantas Thamires Tannous já passaram pela música?
Muitas (risos). Não sei dizer ao certo, mas ao menos umas dez. Foram muitas transformações musicais desde que comecei a cantar. Acho que a música é apenas um reflexo de tudo o que está acontecendo aqui dentro – e como somos seres em constante processo de mudança, com a música não poderia ser diferente.

O que vem com este disco novo?
Vem uma Thamires mais brasileira, mais consciente de suas raízes, que se apropriou da mãe África e também de outras muitas influências presentes na sua história. Tem a Thamires sul-mato-grossense, tem a Thamires árabe, tem a Thamires fruto da mistura maluca que é São Paulo.  Vem também uma Thamires com voz mais ativa já que, desta vez, muitas das letras são minhas também.

A paz… Invadiu o seu coração?
A paz sempre invade o meu coração, mas também o abandona constantemente. E são nesses momentos de abandono que surge a maioria das canções. De uma inquietude, de um processo de reflexão, de busca por respostas a tantas questões que nos cercam.

Tocar fora do país, fazer um projeto paralelo com músicos incríveis, casar… O que tudo isso impactou no seu som?
Acho que  tocar fora do país te faz estar em contato profundo com outras culturas, com outro clima, com outros olhares, ou seja, te faz re-significar muita coisa. É uma expansão da visão sobre as coisas. É como dar um zoom out do seu umbigo e, a partir disso, a gente passa a enxergar as coisas de uma outra perspectiva. Isso influencia diretamente minhas composições. Sobre o casamento, o Michi foi o produtor musical do disco, então foi um impacto e tanto no meu som. Temos muita coisa em comum na música, mas também é um processo constante e mútuo de troca. O Michi me mostrou muita coisa que eu não conhecia e me fez ouvir sons que eu jamais teria escutado. Ampliou minha cabeça musical!

O que você enxerga como sucesso na música hoje?
Acho que o sucesso é muito relativo para cada um né? Pra mim, é poder fazer a música que eu acredito e impactar de alguma forma a vida das pessoas que a escutam – e conseguir fazer disso minha fonte de sobrevivência.

O que a atual Thamires Tannous tem a dizer ao mundo?
Acho que estamos precisando de mais amor em nossas relações e, consequentemente, de mais compaixão. Estamos tomados pelo ódio diante do cenário político, mas precisamos encontrar uma forma de encontrar o equilíbrio. Sinto que existe um inconsciente coletivo atualmente no Brasil que está fazendo a maioria das pessoas que conheço adoecer. Inclusive eu. E, por isso mesmo, estou nessa busca de como, mesmo não aceitando muito do que está acontecendo, buscar o amor e a paz nas pequenas coisas do dia, e ir tentando transformar esse cenário micro em algo maior, que englobe também as outras pessoas.

Qual grito está engasgado na sua garganta?
Tem que ser só um? (risos) Não à homofobia! Não ao machismo! Não ao fascismo! Não às armas! Não ao desmatamento! Não ao fim da demarcação de terras indígenas! Não ao feminicídio! Não ao preconceito! Não ao racismo! Não aos agrotóxicos! Não à qualquer forma de violência! Sim ao amor! Sim à educação! Sim à inclusão social! Sim ao respeito! Sim à cultura!!! Sim à igualdade! E por aí seguem muitos gritos de revolta que, com certeza, não cabem aqui.

O que você quer que as pessoas vejam neste novo disco?
Uma Thamires mais madura e consciente do que está falando – e algumas mensagens importantes que tento passar por meio das canções. Algumas não estão explícitas. Mas acho que uma escuta atenta e sensível é capaz de captar muitas delas. Acho que algo legal de se notar é que cada canção fala sobre uma face de mim. São muitas Thamires presentes neste trabalho e muitas que não couberam nele. Gostaria também que as pessoas notassem os arranjos lindos e seus detalhes, que foram caprichados pelos músicos e pelo produtor do disco, o Michi Ruzitschka.

O que você quer que elas não vejam?
Se eu disser, elas automaticamente vão passar a olhar (risos). Vou guardar essa pra mim.

Quais são as participações lindas que fazem parte?
O disco é tomado por lindas participações. Tem a participação linda de um grande ídolo meu, que é o Chico César, na canção de nossa parceria intitulada “Caipora”. Tem também a participação do Vincent Segal em 2 faixas – um grande violoncelista francês que admiro muito e que toca ou tocou com nomes como Salif Keita, Sting e Cesária Évora. Além do BB Kramer, um super acordeonista gaúcho, que enfeitou a única releitura do álbum, que é “Espumas ao Vento”.

O que mais quiser dizer.
Escutem o “Canto-correnteza”! Foi feito com muita entrega, amor e carinho! O lançamento será no fim de julho nas plataformas digitais!!! <3

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Carol Tavares é jornalista. Passou pela MTV, pela Bandeirantes e a hiperatividade levou seu caminho a cruzar felizmente com o Jardim Elétrico e criar a produtora Jazz House. Apaixonada por música, pelo amor, por Alberto Caeiro e por seu acampamento no Jalapão.