Entrevista: Ventre
Uma banda formada por três músicos que tocam, individualmente ou em grupo, com nomes como Lenine, Cícero, Posada e o Clã, Duda Brack e Tipo Uísque (para citar apenas alguns) já é de impressionar apenas pelo currículo. Na prática, o Ventre é mais que um power trio de músicos que gravam e se apresentam com artistas que você já conhece. Aos poucos (o grupo vem lançando faixas desde 2013), testaram e construíram uma identidade nova e agressiva.
A presença ruidosa e distorcida das guitarras de Gabriel Ventura é preenchida pela cozinha de Larissa Conforto e Hugo Noguchi, que transforma seu baixo em um verdadeiro laboratório de experimentos harmônicos. Essa é a sonoridade que embala as composições confessionais e inspiradas de Ventura, fazendo com que amores, desamores, saudades e rancores sejam cantados em meio ao peso e tensão produzido pelo trio.
Agora, com o fim desse longo ciclo de gestação chega com o lançamento do primeiro disco do Ventre, que deve sair em breve. A produção é de Bruno Giorgi, responsável por trabalhos como Chão, do Lenine. O primeiro single é “Peso do Corpo”, que ganhou um videoclipe dirigido por Philippe Noguchi.
Enquanto aguardamos para ouvir o resultado disso tudo, bati um papo com Hugo Noguchi sobre ansiedades e expectativas para essa estreia da Ventre:
Vocês passaram por vários estúdios e contaram com muitas pessoas no processo de criação desse primeiro disco. Como foi para a banda a participação de tantas pessoas e ambientes nesse período?
Mesmo tendo muito de não planejado, essa pluralidade acabou sendo uma das marcas desse disco. Olhando para trás vemos o quão enriquecedor foi termos de nos comunicar com tantos produtores e engenheiros diferentes, de mentalidades, estéticas e procedimentos próprios (porque o fazer música, mesmo em suas atribuições técnicas, ainda é subjetivo, graças a deus).
Ainda que tenha sido um pouco mais custoso termos de adequar o ideal de nós três (que somos chatos, admitimos, rs) ao ideal e ao proceder de cada produtor que mexeu o disco, isso nos trouxe um know-how muito mais interessante do que se tivéssemos feito um trabalho mono-produtor.
No final das contas, foi o que foi, e em tempos de tanta acumulação de tarefas e trabalhos, essa flexibilidade foi o que possibilitou esse disco de sair (motivo e solução da demora, já piada pronta rs), e eu pessoalmente adoro a heterogeneidade sonora do disco (mesmo tendo uma unidade, pois é sempre nós três tocando, a forma que cada instrumento soa e como eles são espaçados vareiam em cada mix).
Além dessa herança, digamos, objetiva, que é a experiência que adquirimos, temos a melhor, que é a subjetiva: a memória e a gratidão por cada um envolvido no processo pela sua contribuição, Bruno (Giorgi), Brunim (Schulz), Elton (Bozza), Felipe (Fernandes), Gil (Mello), Junior (Tostoi), Pedrim (Garcia), Pedro (Tambellini) e Tomás (Allem).
Como músicos, vocês três participam de muitos outros projetos. De que forma isso influência a sonoridade da Ventre?
Difícil te especificar a forma que isso acontece, mas esteja certo que os músicos com os quais toquei foram minhas maiores influências musicais, muito mais do que tal banda ou tal compositor ou tal músico que gosto de ouvir.
Nossa estética é muito moldada pelo contato com quem nós tocamos, porque cada um tem uma forma bem específica de ver e fazer, e da interseção entre essas mentes, corpos e almas que sai o resultado da música em coletivo. E em graus variáveis, isso também molda a nós mesmos, porque no final das contas, nós não interagimos só com frequências sonoras, mas com pessoas de carne, osso, defeitos, qualidades e tempos próprios.
Sendo mais objetivo, a Ventre tem muito de Posada e o Clã, Leo Justi, Slvdr, Cheddars, Duda Brack, dentre muitos outros (citei estes por estarem mais perto esteticamente), simplesmente porque dividem ou dividiram pessoas em comum com esses trabalhos.
Nesse período de gestação do disco vocês fizeram shows e tocaram bastante esse repertorio. Como é transportar as composições do palco para o estúdio? O que muda?
Como gravamos as músicas a mais de um ano, rola aquela defasagem natural do arranjo registrado de ontem e do arranjo vivo no presente: aquela coisa, você vai tocando a música e vai tendo ideias melhores, ela caminha, não é estática. Algumas ideias novas conseguimos regravar para estarem no disco, outras não.
Nas apresentações também introduzimos temas instrumentais entre-músicas (uma coisa que gostamos de fazer é citar riffs de bandas com quem nós dividimos a noite, já rolou Lupe de Lupe, Mara Rúbia e Hover), e também pensamos a costura entre elas. No caso, acho que o grosso foi transportado dos estúdios aos palcos, e não o contrário como na pergunta, para alguma coisa fazer o caminho de volta (dos palcos aos estúdios), mas não muita, só alguns detalhes de instrumentação.
Passando por tantos estúdios e participando de tantos projetos, vocês são como espectadores privilegiados da produção musical recente. Que artistas indicariam pra ficarmos de olho e o que vem por ai?
Os de sempre: Mara Rúbia é um esculacho ao vivo, o primeiro disco deles é foda do início ao fim e pelo que vi nos shows o segundo EP vai vir rasgando também. Eu gosto tanto da Lupe de Lupe que conseguimos cavar um disco com o Vitor (Brauer) com uma galera daqui do Rio envolvida, a sair em breve.
Não acho que tenha texto e instrumental mais sofisticado no Brasil do que a Rua (a cozinha dela é simplesmente sobrenatural). A gente adora a galere da Simonami, os arranjos de voz e de violão, as composições deles… tudo muito lindo. Além disso tudo tem nosso irmãos da Stereophant e da Hover, que tão vindo com discos esculachantes! Assim como a SLVDR, que tá no processo final do full também.
De brinde, o querido Hugo ainda mandou a playlist que ele ouvia enquanto escrevia essas respostas. Confere aqui:
Clutchy Hopkins – The Story Teller
TTNG – 26 is dancier than 4 (8 bit)
Simonami – Ep (2011)
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