Exclusivo: Augusto Meneghin

Exclusivo: Augusto Meneghin

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OS DESPROPÓSITOS DE AUGUSTO

Qual a obra, penso que essa resenha não precisa de tanto, por já ser tanta.

Augusto Meneghin, essa delicadeza de ser que vaga pela web em total mistério e maestria. É como falar de uma estrela que se mora na galáxia seguinte ou dar nome às inomináveis coisas com que você jamais teve contato.

Com tato.

“Já não consigo seguir os passos da multidão”, confessa. Confesso? Quem diz isso a Vincent? E esse Vincent, é o tal gênio da orelha perdida? Quem se diz e para quem se destinam as arquiteturas filosóficas dessas canções ilustradas de significados perfumados pela culpa? Sinto Augusto quase sambar nos botecos do inconsciente. Sinto Meneghin despetalar, um a um, cada lírio de razão.

Quem é você, amigo? Amigo? Quem é você que nos solfeja agora um mantra? É um mantra em honra à vida despetalada de Vincent? Nós somos Vincent pra você? E quem são esses tais deuses banidos pelo senso da razão humana?

E essas melodias que quase emolduram o silêncio? Ouvir-te é dar voz à mais tímida oração. Aquele “Eu te sou” que não falei aos doze anos de idade para a tal garota, subiu e se transformou em lágrima agora, sob a luz de “Om Rama”.

“Olhe aqui a lua que eu plantei no meu jardim”. Você não cessa quando o assunto é instigar, caro Augusto. Esses versos, esse excesso de vazio ou esse deserto de tudo é o que te resume a ausências e absurdos. Seria você a própria voz da ausência?

Acúmulo.

Augusto Meneghin é a contramão dos novos artistas. Ele é a nuvem que, por último, serena. E quando o faz, é sobre uma casinha simples, no meio do nada. Quase posso ouvir as pessoas lá dentro se reconhecendo em seus versos que me lembram, em alguns momentos, um Manoel de Barros descompromissado. Colhestes os despropósitos? Também carregas a impossível água na peneira?

Sim.

Você vem e diz “Me prove… nos pés…”. Você me diz, baixinho, na rua inabitada do coração. Mas ainda assim é um mistério te provar de uma só vez. Se ouves Augusto, ouves baixinho, como quem nada quer ouvir. Porque é lindo, porque é lírico, porque é cínico e súdito.

E se você achar que eu estou errado, então, o prove.

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Escritor, compositor, produtor cultural e geminiano. Prefere orquestrar silêncios que causar barulho. É fã das canções que só são absorvidas usando fone de ouvido num lugar isolado.