Resenha: Jurema Paes

Resenha: Jurema Paes

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A voz é um lugar que pode ser transfigurado em lugares ? Como dialogar com a tradição sem se deixar prender por uma forma ? Qual o sentido do ‘fazer comunitário’ dentro da arte, em especial da música em nossos dias? Como a canção pode abrir um canal de diálogo com suas próprias fronteiras? A amizade é a força que molda junto com a sensibilidade a arquitetura dos processos do fazer artístico?

Existe uma relação entre o modo como nossas vidas são vividas hoje e a ancestralidade ? Estas e outras questões de um modo sutil para quem tiver menos sensibilidade e óbvio para os que tem uma sensibilidade apurada, atravessam as canções deste disco. A referência a mestiçagem indica para longe do que esta palavra poderia ter aqui de um significado sociológico, antropológico, uma ação dentro de um campo do ser e toda a exterioridade do ser é uma exterioridade interior, é um movimento para o encontro com o Outro, com as alteridades.

Este é um trabalho artístico que foi realizado sob o signo do encontro com o Outro e com suas diferenças complementares, isto que pode ser chamado de radicalidade da alteridade, em todos os momentos dessa viagem ao modo de visitação em movimento coletivo para a canção como uma transfiguração de si em outros, em outros lugares e em outros modos de cantar a chula por exemplo, é nítido para qualquer um que certos ritmos simbolizam um lugar , uma geografia humana , neste disco feito a muitas mãos e dentro de um pensamento que podemos chamar de comunitário, os ritmos que simbolizam um lugar se encontram com outros lugares e outras temporalidades.

O que temos nesse disco é um pensamento aberto, que não se preocupa em nomear, esquadrinhar ou tentar realizar uma esperta conciliação com o Outro, mas existe aqui como fruto do processo comunitário de criação do disco e de trabalho com as canções, um processo de encontro e de diálogo esboçados entre um dentro e um fora do tempo de todos os tempos nesse tempo. Para a arte o enigma do outro opera em camadas de encontros com o si mesmo e é o cerne da atualidade do viver em cidades que são atravessadas por uma onda de tensão harmônica que inviabiliza as fronteiras entre os ritmos, os lugares e as pessoas.

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