LAPAEMENDOUCOMAPOMPEIA Veio Para Chamar Atenção

LAPAEMENDOUCOMAPOMPEIA Veio Para Chamar Atenção

Escolhi o dia certo para escutar aquelas músicas. Sexta-feira. Toque de sol constante, preguiça matinal, presságio de final de semana ‘relax’. Sempre fico ansiosa quando preciso identificar qualidades em determinados álbuns, é missão entregue, e deve ser levada a sério. Mas o LAPAEMENDOUCOMAPOMPEIA é gritante. E já chegou ‘sambeado’, dançante, malemolente. Nem precisou esforço. Feito caixa alta de texto, lugares se encontrando, músicos contribuindo com o melhor disco da semana. Dani Turcheto revela suas parcerias impecáveis para o projeto.

O novo álbum do artista resgata canções e experiências vividas em São Paulo. É sobre situações onde as vivências humanas promovem encontros, desencontros, reflexões, declamações de amor entre tantas outras possibilidades da existência. Bonito, né? Mas esse trecho não é meu não, é do Pipo Pegoraro, produtor musical. Achei justo introduzir uma fala da parceria. Porque nesse espaço, todos contribuem para algo. E Dani e seus comparsas fizeram isso com a música. Ora veloz, ora mansinha, todas trazem um ponto em comum: É preciso ouvi-la. Preciso de necessidade e precisão, tipo Fernando Pessoa.

Dani canta que é preciso “sol e vento pra trazer o amanhecer”, “sol e chuva pra queimar…”. A força da natureza é constante. Dentro de seu timbre controlado, afinado, mora uma vontade de contar do ambiente ao redor e como isso reverbera em sua música. A beleza está em todo o processo, nos ritmos de samba, nas escolhas de instrumentos que mostram muito do apuro, da solidez de álbum. Vez ou outra uma voz feminina soma e faz o dueto. É pulsante perceber as diferenças de cada faixa, que vão se completando ao longo do álbum.

João Peregrino, poderia ser eu, você, mas é parte da letra de João do mar. Tem um toque de Caymmi, um sabor que vai para a Bahia, aprender a pescar entre as marés. Pelas faixas, caminham tambores e violas, cada um à sua maneira distinta. “Pagam contas”, outra música que me leva daqui pra muito longe. Aquelas de mostrar para alguém, cheia de segundas intenções, apresentar – assim, sem mais nem menos -, uma música tão singela, tão melodicamente ‘encantante’. “Leva, que a vida melhora, vais ver”.

Existe esperança na doçura que Dani conta sobre o mundo, mesmo com essa dureza dos dias. Ainda existe paz por aí, e ele faz questão de mostrar. Todas as canções seguem, revelando que existe uma linha muito firme no projeto, pontual. Dani joga “Açúcar no mar” em uma das letras. Nunca havia pensado nessa ideia, de querer ir contra a correnteza, um toque subversivo. “Três corações” é uma despedida leve, positiva. Um convite para se tornar mais feliz, quem sabe.

Dá vontade de inventar palavras e pedir para ser da turma de Dani, aprender a tocar violão ou só acompanhar ouvindo mesmo. Sentar na primeira fileira do show, comprar o primeiro disco e pregar cartaz de fã no quarto. Se LAPAEMENDOUCOMAPOMPEIA tinha a intenção de se destacar, conseguiu. Pois bem, a única coisa a se fazer depois que um álbum desse porte chega ao fim, é colocá-lo de novo para tocar. Não há escapatória. As letras precisam ser decoradas e só há uma maneira. Ouvir e sentir por dentro, até que esse disco “fure”, de novo, claro.

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Mariana é de gêmeos, capixaba e jornalista, não necessariamente nessa ordem. Está em dúvida se gosta mais de ler ou de escrever. Espero que nunca descubra.

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