Marcos Paulo Campos – Ando Só (2018)

Marcos Paulo Campos - Ando Só (2018)

Se você acompanhou ao longo dos últimos anos qualquer gravação ao vivo de Humberto Gessinger, não fica difícil notar o quanto suas canções continuam ecoando em nossos tempos e sendo cantadas por milhares de fãs que vez ou outra até se atrapalham para acompanhar as faixas pela mania que o líder dos Engenheiros do Hawaii tem de mudar suas próprias letras.

De um início com uma atmosfera que passeava entre o pós-punk e o ska no disco de estreia Longe Demais das Capitais (1986), passando por álbuns mais folk como A Revolta dos Dandis (1987) e Ouça o Que Eu Digo: Não Ouça Ninguém (1988) e o rock progresssivo de discos como O Papa é Pop (1990), Várias Variáveis (1991) e Gessinger, Licks & Maltz (1992) – isso pra falar apenas de seus cinco primeiros álbuns, Engenheiros do Hawaii se tornou entre 1984 e 2008, data em que a banda entrou em um hiato, um dos conjuntos mais aclamados e influentes da história da música brasileira.

Em inúmeras versões feitas ao longo dos anos, mesmo depois que se tornou o único membro original a continuar na banda, vimos em álbuns ao vivo como Filmes de Guerra, Canções de Amor (1993), Acústico MTV (2004) e nos shows solo Insular ao vivo (2014) e Ao Vivo pra Caramba (2018), a facilidade com que Gessinger e seus companheiros de banda parecem desmontar e remontar suas canções. E é nesse espírito gessingeriano de reinterpretação que o pianista Marcos Paulo Campos interpreta em seis faixas algumas icônicas canções dos Engenheiros do Hawaii.

Sempre achei algo bastante curioso que Gessinger não seja tão interpretado por outros artistas tanto quanto alguns compositores da sua ou até de outras gerações da MPB, mesmo com suas letras marcantes e melodias assobiáveis, e sendo acompanhado por milhares de fãs décadas depois. Também, principalmente em seus álbuns mais voltados para o rock progressivo, sempre acabei ficando com a impressão que algumas canções dos Engenheiros do Hawaii se tornavam demasiadamente complexas, e que talvez pudessem funcionar também em versões mais contidas. Longe de querer criticar a proposta voltada para o progressivo da banda, acho fantástico ter tido acesso a essas diferentes abordagens das mesmas faixas ao longo dos anos.

Em Ando Só, com o foco em uma atmosfera de piano e voz, Marcos Paulo Campos parece buscar essas faixas em sua essência, talvez até tentando imaginá-las na atmosfera em que foram compostas e examinando as linhas que conduziram essas canções entre um acorde e outro. Ao mesmo tempo, o músico arrisca uma caída jazzística/mpbística em O Papa é Pop e também muda a icônica introdução de Somos Quem Podemos Ser, uma das faixas mais populares dos Engenheiros do Hawaii e que nessa versão possui um belo solo de synth. Com sua voz grave, que explora momentos até declamados e quase sussurrados, Marcos Paulo consegue interpretar essas canções com perícia nesse belo disco em homenagem aos Engenheiros do Hawaii.

Seja Julio Iglesias, Bob Marley ou Willie Nelson lhe dando razão, Humberto Gessinger é um dos grandes cancioneiros da música brasileira cuja obra sempre vale ser revisitada e reinterpretada, algo feito com exímia por Marcos Paulo Campos. Altamente recomendado.

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Cineasta, escritor e compositor. Estudante de Filosofia e Artes Visuais. Vive procurando novos discos pra ouvir e é fanático pela música dos anos 60 e 70. Escreve sobre Discos Escondidos às vezes nem tão escondidos assim. Seu álbum "O Estrangeiro" foi lançado em julho de 2019. Confira nas plataformas digitais!

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