Resenha: Mombojó
E ANTES DE SEREM, ERAM
Eis o meu primeiro grande desafio nesse novo ofício de escrever resenhas. “Alexandre”, da banda que, na minha opinião, está entre as cinco melhores de 2000 pra cá. Estou falando deles, dos Mutantes de Pernambuco: Mombojó!
E quando ouço Mombojó, a primeira lembrança que me vem é do ano de 2008, sentado na mesa da copa na casa de meus pais, com o vento frio entrando pela porta lateral e me deixando em paz madrugada adentro. Também lembro de alguns amigos. Lembro dos fast-foods baratos e gordurosos que eu comia enquanto ouvia o incrível Nadadenovo, o melhor disco junto com o Ventura, dos Los Hermanos, dessa nova geração da música brasileira. Calma, gente, falo por mim. Todo mundo tem sua própria lista. E tal qual Humberto Gessinger disse no livro Mapas do Acaso, eu adoro ter teorias solitárias. Então, três vivas ao Nadadenovo!
Desde então, acompanho cada trabalho novo que a banda lança. Da fusão do rock com choro do primeiro disco, aquelas melodias que eram quase um lamento, até o lúdico e o eletrônico de Amigo do tempo. Mombojó é lindo. É uma das construções artísticas mais bem sucedidas dos últimos anos. E agora cá estamos, diante do experimental “Alexandre”.
Literalmente, “Alexandre” já começa me causando um Rebuliço. Desculpem o trocadilho, mas, é que quando ouço qualquer disco comendo chocolate eu fico assim, tropeçando nas palavras. Mas, é um rebuliço bom. Coisa que só o Mombojó causa em mim. É que calhei de me incumbir da missão de significar o tal personagem que da nome ao trabalho. E a primeira canção já diagnostica algo preocupante: “Ninguém pra incriminar”. Culpa do vento que agora entra pela janela e me traz paz madrugada adentro. É, acho que algumas coisas nunca mudaram nessa relação.
Será que Alexandre é o herói que a gente não tem pra salvar? É isso que diz a canção seguinte, Me encantei por Rosário. Ou será que é o personagem que só tem memória pra suas glórias e suas derrotas incomodam de Summer Long? Esta que tem a participação especial da cantora francesa Laetitia Sadier, vocalista da banda franco-britânica de post-rock Stereolab, encanta pela fusão perfeita das vozes e idiomas que não encontram labirintos na canção. Muito pelo contrário. Essa parceira rendeu várias portas.
Mas, há algo diferente nesse disco e eu ainda não consegui detectar. Apenas há. A verve é a mesma. A pegada também. Os barulhinhos, as misturas. Céu de novo em parceria. Céu nunca é demais! Falo de algo que está começando a incomodar por não consegui perceber ao certo o que seja. Mas, daqui Pro sol eu consigo. Então, sigamos.
Quando ouvi Hortelã, imaginei ter encontrado, senão ele, mas, uma das faces do suposto personagem que calhei de inventar que o disco tinha. E que canção! Singela, doce, absurdamente humana e pueril. Fui para além de 2008. Fui para o cenário mais antigo de mim, pro museu das eternidades esquecidas. E segui. Com um brilho nos olhos, mas, segui. Porque seguir é necessário. Avançar é biológico. E Dance me falou: “Vista a roupa da valentia”. “Alexandre”, é você? “Nada que a vontade não crie”.
Quando ouvi as duas últimas canções, pensei: “Será que é um aviso dos perigos do sonho?”. Tipo “Cuidado, perigo, não abra as portas para o sol iluminar!”. Fiquei com isso na cabeça mais ainda quando, no último suspiro, ele pergunta algo como: “Are you sure?”.
De repente, me lembrei do Di Pietro. “Nossa, ele deve ta pilhadão pelo atraso da resenha”. Então, suspirei. Me concentrei no resultado final do que acho que nem consegui começar. Sempre apanho quando tento escrever sobre algo que me toca profundamente. É como enfiar uma espada na subjetividade da ternura. E Mombojó sempre será essa mescla de paz e pós-guerra no meu coração.
Ah, esqueci de dizer que na nona canção eu me encontrei com “Alexandre”. Ele era uma confusão de vozes e algo como se fosse um vento forte. Um rádio mal sintonizado, uma TV fora do ar, um canal sendo interceptado pela polícia ou qualquer coisa inaudível e que faz todo o sentido para alguém.
Porque “Alexandre”, na verdade, não era ninguém.
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