O Patuá de Matilda vai voar fora da asa
Minas Gerais é um laço. Daqueles com pontas enormes. Dele se abre um vão, um céu, um nó. Não há como ser indiferente ou não ser afetado quando as pontas apertam confortavelmente. A sensação é a mesma para quem escuta “Patuá”, da banda Matilda. Por essa obra, delicada e necessária, as artistas provam que da cidade de Juiz de Fora (cidade de sua origem) pode ser fazer um mundo de som e beleza.
O coro de mulheres toma conta da sala logo na primeira música, arrebata qualquer tristeza, deixando tudo de ruim do lado de fora. “Degradê em Lua Nova” é a união forte e melodiosa de Amanda Martins (flauta transversal), Bia Nascimento (violão), Fabrícia Valle (percussão) e Juliana Stanzani (voz). Dentro da faixa, barulhos de água, dos instrumentos se alinhando de forma certeira. Ao passar do disco, fica a ideia doce de manga colhida no pé.
Matilda busca imprimir em sua sonoridade um pouco das diferenças e influências da formação musical de cada uma das integrantes. De acordo com a banda, é essa multiplicidade de influências diversas que emerge o fazer autoral, o fazer musical se tornando rigoroso, intuitivo e criativo. Já passa das 17h, “Sem Ponto e Sem Nó”, seguido do samba delicioso de “Margarida”. As notas fazem do disco um momento único de paz, melhor aproveitar.
Patuá é o primeiro CD do grupo, lançado em 2015, feito por meio da Lei Murilo Mendes de Incentivo à Cultura e de um crowdfunding realizado na plataforma Catarse. O projeto teve apoio dos fãs, amigos e empreendedores privados. Marcado pela instrumentalização, Patuá conta com a inclusão da bateria e contrabaixo, tanto nas gravações quantos nos palcos.
Existe uma mistura agradável e perceptível entre as músicas, inícios e finais coerentes. O projeto inteiro entrega a mensagem de coletividade, precisão e – principalmente – sonoridade. Minas Gerais é um celeiro da música de passagem, das estradas, terras, águas e bicas. Tudo o que é natural, de afeto e chão passa por aqueles caminhos. As meninas da zona da mata recuperam o que era letra e sensação de música, com o Clube da Esquina, por exemplo. É um resgate do que nunca esteve perdido, apenas pronto para aparecer de novo.
“Flor em flor”, uma das faixas do disco, lembra o que não é possível esquecer. Patuá é um disco sensorial, que não necessita de tantas letras e explicações. É excelente e ponto. A concordância entre voz e instrumentos deixa claro se tratar de um trabalho de essência. Seja Minas Gerais, Bahia ou Maranhão, não existe limite em divisa para a banda. Depois da experiência de escutar o disco, imagino, de fato, que “a (nossa) alegria vai voar fora da asa”. Pois voe, Matilda.
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