Peixefante crava seu nome na nova psicodelia brasileira
by Pedro Mendes
O Peixefante chamou atenção desde o seu primeiro lançamento, Lorde Pacal, de 2015 , distribuído de forma independente. O uso de sintetizadores, os arranjos bem feitos e os vocais bem pensados viraram marca registrada da banda, que conseguiram cativar uma grande safra de pessoas e criar uma certa expectativa em relação aos próximos trabalhos. E conseguiram superá-la.
Seu novo álbum homônimo, lançado esse ano pela Dull Dog Records, conseguiu manter a pegada espacial do ep, e ainda acrescentou novas influências, que vão do folk ao dream pop. Com 9 faixas que refletem temas sobre a realidade e a sua busca, eles cravaram seu nome no meio independente e na nova onda psicodélica que rege o Brasil hoje, e que tem Goiânia como um de seus principais berços.
Ermitão abre o disco de forma excepcional, vocais bem trabalhados por trás de uma atmosfera criada pelo synth e o baixo acompanhados pela guitarra, compõem uma sensação contraditória de paz e agonia, como é dito na música “lá naquela serra vive um ermitão, na sua cabana mora a solidão”. Logo após inicia-se Homem Sol, mais dançante e alegre do que sua antecessora, ela nos faz dançar em meio à sua sonoridade mais pop. Já Lamparina nos remete novamente à um clima mais florestal e introspectivo, sua bela melodia acompanhada de várias camadas sonoras e uma guitarra com um som mais límpido, nos carrega até o final da música que é finalizada com um coro num ritmo de marchinha, é minha preferida do álbum junto com Luto. Sunrise é uma mescla de sensações, consegue manter um clima reflexivo, mas com um ritmo mais dançante e vibrante, criado pelo groove do baixo e da bateria enquanto várias camadas de sintetizadores são adicionadas, criando uma atmosfera espacial e intimista. Liberdade já começa com uma bela sequência de acordes tocada no violão acompanhada pelo vocal mais limpo e vai ganhando forma aos poucos, e nos coloca no colo quando entram os outros instrumentos. Ela consegue conversar conosco de uma forma bem próxima, seja pela melodia cativante ou por sua letra sincera, e quando chega o final a música já nos ganhou. Uma das melhores do álbum. Luto é minha preferida, conheci a música ao vivo em um show no Teatro Sesi em 2016. A harmonia é simplesmente maravilhosa, a sequência se repete durante toda a canção, como se nos fizesse parar em meio a toda a loucura cotidiana e prestar atenção em sua mensagem, que reflete sobre a existência, religião e nosso papel no mundo. É um momento para entrar dentro de si e buscar na beleza da melodia, calma para seguir, entendendo o nosso lugar e que no final “todas as coisas repousam em paz.” Após o momento reflexivo que luto nos leva, a próxima que chega arrebentando tudo é Tchaikovsky, com uma pegada mais lisérgica e com influências mais clássicas, ela nos leva a um momento de pura fritação, e seu coro meio infantil no meio da música só reforça a lisergia trazida na canção. Banzo é uma velha conhecida pra quem acompanha os lançamentos da banda. Foi um single lançado em 2015 e rearranjado para esse álbum. Passou de uma música simples, tocada apenas por ukelele e voz, para uma canção completa com um arranjo muito bem feito. Girinopedia encerra o álbum com chave de ouro. Mantendo o tom de introspecção, a música nos leva novamente à um momento de reflexão, seja sobre o álbum, sobre a existência, ou sobre tudo. Ela carrega perfeitamente nossos pensamentos no meio de uma camada espacial, e finaliza com o coro de luto, se tornando quase um mantra: “todas as coisas repousam em paz, pobre do homem que ficou pra trás, distante do sonho sobre o pó.”
O álbum está disponível em todas as plataformas:
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