“Quilombo Oriental” – África, Brasil e Índia com tempero mineirin!
Altermar Dutra, Milton Nascimento e o Clube da Esquina, Grande Otelo são alguns dos muitos “imortais” mineiros que contribuem massivamente para a cultura do nosso país. De várias cidades de Minas Gerais brotaram artistas de talento inesgotável e, para nossa alegria, continua a brotar. A “nova geração” de nomes como Irene Bertachini, Luiza Brina e o Liquidificador e Laura Lopes compõem um maravilhoso “trem bão” na cena musical independente de Minas.
Mas o destaque de hoje fica por conta do caldeirão cultural existente no disco “Quilombo Oriental” (2015) do cantor e compositor de “belô” Gustavo Amaral, o Gustavito. Captado no estúdio “Casa Azul”, (importante coletivo de artistas independentes de Belo Horizonte) com bases instrumentais gravadas ao vivo no estúdio “Camarada” em parceria com o músico e engenheiro de som Kiko Klaus, o disco chama atenção pela mistura cultural presente nas letras e nos ritmos, pela espiritualidade, sensibilidade e pela dulcíssima voz de Gustavo.
O belo trabalho faz referência à ligação do artista com o bloco de carnaval mineiro Pena de Pavão de Krishna (P.P.K) do qual Gustavo é cantador. Segundo ele “a proposta do bloco é tocar o ritmo de ijexá e cantar mantras ou canções que tratem da atmosfera do sagrado, da paz e da espiritualidade.” O bloco se consolidou em 2013 e representa uma festa onde a “brincadeira pela simples brincadeira” e a irreverência não são o foco principal mas sim a celebração e a união de ritmos, culturas, cores e crenças.
Tanto o bloco como o disco trazem uma mescla que expressa a resistência da cultura popular associada à espiritualidade expandida. Essa mescla, que vem banhada a ijexá e afoxé, aparece evidenciada nas faixas “Quilombo Oriental”, “Aflorou” e em “Masala com Dendê” – música que abre o disco e que, pelo menos a mim, os acordes inicias têm o poder de encantar e amolecer, quando entra a voz do Gustavito então… é quase como voltar a ser criança. E a beleza de imaginar os deuses da Índia se relacionando com elementos da cultura afro-brasileira – “Neguin, nunca fui lá na Bahia nem na Índia, só sei que a Hindú rebolaria escutando essa folia (…) Ganesha ia gostar de acarajé, Yemanjá, manjaria samosa” é coisa rica e bonita demais!
Além dessa miscigenação rítmica e cultural o disco transborda poesia também em canções como “Bença”, “Talismã”, “Mal de família” e “Xote dos 26”, uma linda poesia cantada sobre amadurecer, sentir a transição entre o fim da adolescência e a desmascarada fase adulta. “Xote dos 26 foi feita no dia do meu aniversario de 26 anos e foi justamente quando eu me dei conta e me deparei com a reflexão sobre o fato de que eu não tenho mais vinte e poucos anos. Que agora me sinto maduro e sei por onde andar, como entrar e como sair, com respeito e sem perder a ousadia pra dizer o que eu acredito.” A faixa 6 “Parada Multicor” também merece um destaque especial por ser uma delicada crítica em tons circenses aos que querem “curar” quem aceita e respeita toda forma de amar. A letra faz um contagiante convite à liberdade:
“Pra que sonhar em preto e branco, amor!?
Se o mundo é multicor
Revolução começa no corpo, amor
De quem se liberta”
O músico se apresenta em 3 formatos: um solo – voz e violão autoral com grandes nuances de interpretação, o formato trio com os músicos Christiano de Souza e Felipe José, e em formato “festa completa” em Gustavito & a (brilhante) Bicicleta, responsáveis pelo “Quilombo Oriental”. A banda que acompanha o músico há quatro anos é composta, além de Gustavito, Christiano (percussão) e Felipe (contrabaixo), também por Yuri Vellasco (bateria), Pablo Passini (guitarra) e o surpreendente trio de emocionantes vozes de Luana Aires, Irene Bertachini e Deh Mussolini, meninas que merecem destaque especial com seus encantadores arranjos.
O disco “Quilombo Oriental” impressiona e acalanta por sonoridade e mensagem tão sincretizadas quanto o povo brasileiro. Traz canções cheias de referência a uma atmosfera colorida, alegre e cheia de amor, aliás unir com tanto êxito em formato musical crenças, espiritualidade, poesia e culturas distintas é mesmo sinal de liberdade e amor e requer, confome Gustavito “visão expandida da espiritualidade envolvendo todo o universo do sagrado de todas as culturas e conectando todos em seu principio fundamental que é o amor.”
Conecte-se e se maravilhe com a sensibilidade e a beleza do “Quilombo Oriental” de Gustavito & a Bicicleta, afinal…
“quando a arte encontra a vida o que pode acontecer?
ou te aponta uma ferida ou te mostra a maravilha!”
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