Resenha: Jan Felipe | Dias Antes do Esperado
AS ENTRELINHAS DO MARROM
A primeira lembrança que me veio quando ouvi “Dias antes do esperado” foi o disco “Como num filme sem um fim”, da Pública, a importante banda gaúcha que revelou o cantor e compositor Guri Assis Brasil. O clima, a densidade musical e os efeitos utilizados me remetem ao mesmo ponto em comum entre os mundos.
Eu vi cores. Vi o marrom e o azul pálido. Vi um pássaro cansado e uma confusão de luzes fracas. É intenso passear por estas construções harmônicas influenciadas pelo indie. Mais intenso ainda é significar a real intenção da mistura. Percebi menções veladas ou desapercebidas à música brasileira, como em vários momentos da canção “Segundo lugar”, que abre o disco.
Basta transcender o olhar sobre a capa. Perceber a ligação do som com cores e sóis. Vejo os timbres ali, em cada (entre)linha grossa do marrom.
É a luz clara que ainda tenta se acender.
Silêncios também ardem na poesia lúdica em forma de metáforas urgentes: “Céu de carvão”, a melhor canção do disco, parece emoldurar o devaneio, de mãos dadas com a voz da cantora Marina Silva.
“Baixo e trovão em minhas mãos, contidos aqui
Céu de carvão, cores no chão, eu ouço ali
Quando eu precisar me debruçar
Luz e som irão se unir.”
Jan Felipe equilibra suas sentimentalidades entre o Sena e o Redentor, com viscerais tatuagens inglesas na pele das canções. É Gainsbourg e é Jobim. Acima de tudo, cidadão do mundo de versos sussurrados, descabidos. Por vezes, distantes, como um grito de sol, como um perfume de tempo.
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