Cães que Ladram e Mordem

Cães que Ladram e Mordem

Ao longo desses meus pueris 27 anos de existência foram incontáveis festas onde perdi a minha voz ao cantar e berrar como se o mundo fosse acabar canções que falavam de sexo, violência, ocultismo e liberdade; músicas de grupos como Led Zeppelin, Pantera, The Libertines e por aí vai. Noites em que em alguns momentos o que mais importava era o quanto de bebida barata podíamos aguentar antes de vomitar no coturno de alguém que estivesse distraído o suficiente para não perceber a aproximação de uma bomba de conteúdo gástrico em forma de gente. Momentos de esbórnia e confusão na maioria do tempo, mas não apenas isso.

Era também quando aproveitávamos para falar das leituras recentes, dos últimos lançamentos cinematográficos e musicais, além de aproveitar a companhia dos amigos, compartilhando planos, sonhos e anseios. Portanto, não se tratavam de reuniões vazias e inúteis como muitos de fora pensavam, mas de um esvaziamento da linguagem dura e utilitarista do senso comum. Éramos, ou pensávamos ser, como um tipo diferente dos vagabundos iluminados de Kerouac, já que ao invés de percorrermos cidades e estados por estradas e ferrovias distantes, nos satisfazíamos em caminhar quatro ou cinco quarteirões até o lugar onde a noitada aconteceria – geralmente uma casa onde os pais estariam viajando, confiando na responsabilidade de seus filhos adolescentes exemplares.

É a essa atmosfera que retorno quando escuto o disco de estreia dos mineiros do The Junkie Dogs. A banda, formada por Rafael Ludicanti, Bruno Leal Medeiros, Marcos Braccini, Marcos Sarieddine e Flávio Freitas, apresenta energia e entusiasmo, além de qualidade e vigor. O nome do grupo foi tirado do livro Junkie, de William Borroughs. É dele, e de autores como Kerouac e Gainsburg, que vem a inspiração para as letras diretas e bem construídas, marcadas pela vontade de liberdade e utopia. O som é incendiário, provoca e faz vibrar. É o bom e velho espírito Rock n’ Roll se mostrando como há muito tempo não acontece.

Pode parecer, do jeito que descrevi, que esse disco é na verdade uma capsula do tempo que funciona apenas para viagens do agora para o antes. Peço perdão se assim aconteceu. Sou péssimo em descrever certas coisas, por isso vou deixar isso um pouco mais claro.

Se formos pensar na música do The Junkie Dogs como uma capsula do tempo, é bom fazer entender que ela também é capaz de nos lançar não no futuro, mas em um devaneio dele. Só o devaneio é capaz de nos fazer alcançar outros mundos, outras línguas, outras formas existenciais, por isso o filósofo francês Gaston Bachelard, talvez o mais brilhante que já tenha surgido, fez dele um de seus temas principais.

Se você quer um som para curtir tomando um bom whisky, aproveitar mesmo, sem aquela pressão de parecer culto e descolado, The Junkie Dogs é ideal.

Dance, cante, pule e desafine. A vida é sua e não deixe que ninguém te diga o contrário e se esse é seu momento, te apresento então a sua trilha. Um brinde aos Rain Dogs de Tom Waits, um brinde aos Junkie Dogs!
Ouça o disco na íntegra:

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Escritor, jornalista e editor. Responsável pela curadoria de conteúdo do Jardim Elétrico.

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