45 Years

45 Years

O quão estabelecido é um relacionamento duradouro? Não importando se o casal está unido por 30, 45, 50 anos, o que me inquieta é que o ser humano ainda sim, seja por medo, insegurança ou julgando que é desnecessário, omite informações sobre sua própria vida. Talvez no intuito de não alterar de nenhuma forma o status quo matrimonial. No entanto, quando surge qualquer coisa que remeta ao passado de uma parte do casal, a outra é a que demonstra maior sensibilidade. Seja positiva ou negativa.

O diretor e roteirista Andrew Haigh adapta o romance “In Another Country”, de David Constantine e resulta em “45 Years”. Kate Meecer (Charlotte Rampling) está prestes a completar o quadragésimo quinto aniversário de casamento com Geoff Mercer (Tom Courtenay), em uma festa que acontecerá no sábado. Na segunda-feira, Geoff recebe uma carta contendo informações de que a geleira da qual sua prévia namorada, Katya, onde estava congelada por muitos anos, estava derretendo. Por conta da imersão de Katya no gelo, houve um processo de criogenização natural, conservando a idade que ela tinha quando sucedeu a tragédia.

A partir desta notícia, acompanhamos em uma linha temporal bem sublinhada, todos os acontecimentos do casal em decorrência deste fato. Charlotte personifica de maneira assombrosa a esposa que no primeiro instante, demonstra interesse e compreensão, mas que aos poucos, vai se transformando e catalisando ciúmes e raiva pela inércia do marido à data comemorativa.  Durante o passar dos dias, ela calmamente trabalha sua insegurança, incredibilidade e nervosismo.

Tom segue na mesma medida, desenhando o homem atormentado pelo fim indesejado de um relacionamento pelo qual era fielmente entregue e solícito. Apesar da possível interpretação de subjetividade em relação ao seu caráter, ele estabelece uma euforia cautelosa, principalmente por conta do segredo que Kate descobre.

O roteiro prefere evitar os demasiados conflitos que eram esperados e possíveis e mergulha-se na precisa e pontual desarmonia histórica do casal. Enquanto o homem readquire características joviais, como o espírito aventureiro e rabugento, a mulher envelhece, carregando amargura e arrependimento. A transformação do casal é bem contada, apesar de não haver muitas informações de suas características pré-carta.

A fotografia é neutra, registrando a cinzenta e fria Inglaterra. A locação foi bem usada, trazendo aspectos de isolamento e confinamento, como se as idas ao centro da cidade fossem analogias para uma espécie de liberdade. de alívio. A direção é manipulativa e certeira, movimentando-se entre os cantos dos cômodos, sem muitos close-ups, evitando a sobre-exposição às emoções dos personagens.

Curioso é notar que a ideia do roteiro não traz consigo muitas particularidades inovadoras. Na verdade, é como se fosse uma ideia, com o intuito de transmitir uma mensagem sobre a conformidade e o resgate dos personagens a suas imagens mais novas ou mais velhas, transportando-os em uma linha do tempo abstrata, resoluta em suas perspectivas e noções sobre amor, compaixão, sexo e reavivamento emocional.

Confira o trailer:

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Jornalista hiperativo, estranho e que ama falar e escrever. Sou o que sempre busco ser. Comunicar e mudar as pessoas. Levar o bem através de tudo que amo!

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Carol
Carol

fevereiro 01, 2016