Rotações: Flora Poppovic

Rotações: Flora Poppovic

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Pitanga em Pé de Amora? Que nome peculiar para uma banda.
Talvez esse seja o primeiro pensamento que vem à cabeça de alguém que se depara com o grupo paulistano pela primeira vez (além de ficar imaginando uma pitanga entre amoras numa amoreira, é claro). Apesar do nome nada comum, Pitanga em Pé de Amora traz em seu trabalho, desde 2008, ritmos bem conhecidos dos brasileiros.
O samba e a bossa nova são facilmente identificáveis nas músicas do grupo, que trabalha os instrumentos das quatro famílias com primor. Por vezes soa popular, principalmente pela percussão que dá uma sensação deliciosa de rodinhas de samba de bairros boêmios de São Paulo. Porém, a flauta e o clarinete executados com tanta beleza mostram o lado erudito das canções. Tal junção do erudito e popular é feita de maneira caprichosa, indicando o carinho com o qual os músicos preparam seu material, reunido em dois álbuns até então, Pitanga em Pé de Amora e Pontes Para Si. Não é preciso muito após ouvir qualquer uma das músicas da banda para elaborar um breve parecer sobre o motivo de se chamar assim: as produções do Pitanga são ímpares em meio ao cenário musical do momento.

O grupo formado por cinco integrantes, além de manifestar doçura em cada nota, possui um elemento cheio de ternura, tanto na voz quanto na imagem: Flora Poppovic, a “presidente” do Pitanga, como se intitula em seu Facebook. Cada vez que ouço Flora – o que pode parecer clichê – minha mente viaja até uma ilhazinha no meio do oceano onde uma sereia canta para enfeitiçar os marujos. Duas músicas são essenciais para entender rapidamente esse efeito que ela causa: “Quando Eu Te Encontrar”, presente no primeiro CD – homônimo da banda –, de 2011, e “Descompasso”, que está em Pontes Para Si, que acaba de sair do forno. Acompanhada pelos companheiros Daniel Altman, Gabriel Setúbal, Diego Casas e Ângelo Ursini, com vozes, instrumental impecável e composições lindas, a voz de Flora atravessa todas as pontes necessárias para fascinar aqueles que a escutam. Mas que disco despertou nela a vontade de trabalhar uma voz tão harmoniosa? Com a palavra… A presidente:

“Um disco que me influenciou e ainda me influencia até hoje é o João Gilberto.
Pra começar, João tem esse canto manso, quase que sua voz é costurada ao violão. É possível ouvir os dedos dele mudando de posição, é possível sentir o silêncio interno dele pousando na gente enquanto se faz uma longa viagem. Quando ouço esse disco, parece que estou sendo levada calmamente por uma correnteza num rio morno. O violão hipnótico de João contrastando com as divisões inesperadas da voz, e lá no fundo tem uma percussão de vassourinha, mais completa que uma bateria toda. E ainda por cima, tem “Na Baixa do Sapateiro” em versão “Karaokê” pra cantar enquanto ele toca!

Quando fui cantar pelas primeiras vezes em público, em rodas de samba, eu conhecia muito pouco desse universo e os únicos sambas que conhecia eram os que o João gravou. Dentre elas eu cantava duas desse disco: “Falsa Baiana” e “Isaura”.
E sempre que estou triste ou feliz ou precisando me botar nos eixos, eu escuto ele. É um carinho na alma”.

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De São Paulo, apaixonada por cultura, arte e comportamento humano. Movida a música.

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